Jardins da China

É sabido que os grandes jardins de todo o mundo tendem a reflectir diversas concepções do universo e os jardins chineses não são excepção. Embora difiram entre si de acordo com a época e o local, abordarei aqui apenas aqueles que são hoje considerados a quintessência do que é um “jardim chinês”: os jardins de Suzhou das dinastias Song a Qing e os jardins imperiais das dinastias Ming e Qing de Pequim e Chengde.

Trata-se de jardins cuja concepção não podia estar mais longe do que, por exemplo, a concepção dos jardins de estilo francês onde a natureza é manipulada e constrita de modo a servir uma rigorosa composição geométrica imposta pela mente humana. Na China, a ordem geométrica regular, simétrica, previsível, na qual predominavam linhas rectas, era reservada para a arquitectura dos edifícios e o planeamento das cidades, ou seja, para os espaços sociais regidos sobretudo por princípios confucionistas e onde reinavam relações formais e a expressão pessoal era limitada. De acordo com um antigo dizer chinês, “quando se faz jardins o melhor é ser sinuoso, quando se faz amigos o melhor é ser recto”. Nos jardins, as linhas e os caminhos nunca devem ser rectos, mas sinuosos ou em ziguezague, ir subindo e descendo colinas (Fig. 1).

À semelhança da natureza, reina uma desordem e irregularidade deliberadas. Na década de vinte do século passado, ao testemunhar o orgulho britânico nos extensos relvados verdes e bem aparados inseridos numa cerca da sua ilha, um visitante chinês expressou com eloquência a aversão que sentia perante tal monotonia e regularidade, comentando que seriam indubitavelmente prazerosos para uma vaca, mas incapazes de seduzir o intelecto de um ser humano.

O artifício não está ausente nos jardins chineses, ou não se trataria de jardins, mas o que se pretende é criar uma versão elevada da natureza por meios artificiais. Apresentavam-se como uma súmula refinada da natureza, ou seja, uma conjugação aperfeiçoada de natureza e de cultura humana. Isso era conseguido, não contrariando a natureza, não através da imposição de uma ordem geométrica, mental, mas imitando-a na variedade de formas, na surpresa, na alternância entre animado e inanimado, ao mesmo tempo que introduzindo subtilmente elementos de cultura humana. Um jardim não se dirige só aos sentidos, que deseja despertar ao ofertar toda uma panóplia de deleites visuais, olfactivos, sonoros, mas é também um estímulo ao intelecto e à imaginação, uma cosa mentale, e isso é claramente assumido nos jardins chineses. Os recursos para recriar a natureza eram a água, as colinas, as rochas, a vegetação e a horticultura, aos quais acrescentavam elementos arquitectónicos, como pontes, galerias, muros, pavilhões, introduzindo ainda novas camadas de significado recorrendo à pintura, à literatura e à caligrafia.

Era o pensamento taoísta que preponderava na arte de criação de jardins, locais a que o homem se desloca tendo em vista relacionar-se e mergulhar na natureza. É certo que as conotações confucionistas não se encontravam ausentes.  É possível detectá-las em muitas das designações escolhidas para os diversos locais, assim como, por exemplo, na presença de casas de campo com criação de galinhas e pomares de pessegueiros em redor. Para Confúcio, a agricultura era a base da sociedade e que o que era simples e antigo, como a frugalidade dos camponeses, possuía maior grau de virtude.

 

Natureza e cultura

Ainda de acordo com Confúcio, 知者樂水,仁者樂山, ou seja, “quem é sábio compraz-se com a água; quem é virtuoso compraz-se com as montanhas.” A relação entre os jardins chineses e as pinturas de paisagem chinesas (山水 shanshui, montanha e água) é de grande intimidade (Fig. 2). Os jardins podiam mesmo constituir versões reificadas de pinturas de paisagem (山水 shanshui), de poemas ou de passagens literárias. Condensados de natureza, os jardins evocavam muitas vezes, com efeito, as pinturas criadas pelos verdadeiros artistas, aqueles através de quem a natureza se manifesta. Um caso conhecido é o do imperador Qianlong, que pediu a todos os pintores da corte que elaborassem uma versão da célebre pintura de Zhang Zeduan, “Subindo o rio no Festival Qingming”, da dinastia Song (960 a 1279), para que depois uma das cenas fosse construída sob a forma de jardim. Além disso, eram muitas vezes os pintores quem concebia os jardins. Por outro lado, os jardins inspiravam a pintura que, por sua vez, se tornava cobiçada pelos proprietários dos jardins. A pintura de jardins atingiu o auge na dinastia Ming (1368-1644) e os proprietários de jardins rivalizavam pela posse das pinturas de jardins de Qiu Ying. Na dinastia Qing (1644-1912), vários jardins foram desenhados por membros da academia imperial de pintura. Assim, a arte dos jardins, a arte da pintura e a arte da poesia reenviavam constantemente umas para as outras.

Os jardins podiam ainda evocar outros jardins ou paisagens de renome, ou lendas e mitos. Por exemplo, uma das características clássicas dos jardins é apresentarem três ilhas num lago que são uma alusão às três montanhas sagradas dos mares do leste, Yingzhou, Penglai e Fangzhang.

Uma característica dos jardins chineses sem paralelo nos jardins ocidentais é só serem considerados terminados quando os diversos cenários, assim como os elementos arquitectónicos, tiverem recebido um nome e este tiver sido gravado ou pintado numa bela caligrafia (Figuras 3 e 4). Também se gravavam em determinados locais poemas sobre o jardim feitos por visitantes anteriores.

  Pensar num nome apropriado para um local era tarefa de grande importância através da qual o proprietário e amigos aproveitavam para fazer alarde dos seus conhecimentos literários e da sua capacidade para versejar. Os nomes seleccionados podiam aludir discretamente a paisagens que se tinham visto efectivamente, a outros jardins, ou a composições literárias de renome capazes de despertar as emoções convenientes para o local, assim como veicular mensagens adequadas de teor estético ou moral. Deste modo, os jardins ofereciam uma experiência de deleite não só para os sentidos mas para a mente educada. Por exemplo, no Jardim do Humilde Administrador, em Suzhou, há um pavilhão ao lado de uma lagoa com flores de lótus que se chama Pavilhão Onde se Demorar e Escutar, ideal para o visitante se sentar em silêncio no outono a escutar a chuva a cair sobre as folhas dos lótus. Nessa designação ressoa o verso de um poeta da dinastia Tang (618-906), Li Shangyin: 留得枯荷听雨声 liu de kuhe ting yusheng “restam as murchas flores de lótus para escutar o som da chuva”, do poema intitulado《宿骆氏亭寄怀崔雍崔衮》 (Para os Irmãos Liu no Pavilhão Luo).

O imperador Qianlong mandou construir o Jardim do rio Hao Pu no Parque Beihai, em Pequim. ‘Hao’ era o antigo nome de um rio da província de Anhui. Foi numa ponte sobre esse rio que terá tido lugar o bem conhecido diálogo entre dois filósofos do Período dos Reinos Combatentes (475-221 a.C.), Zhuang Zi e Huizi, em que o primeiro comentou: “Que felizes são os peixes do rio!’, ao que Huizi respondeu: “Tu não és um peixe. Como podes saber se os peixes estão felizes ou não?” Zhuangzi respondeu: “Tu não és eu. Como podes saber se sei ou não que os peixes estão felizes?”. Ao escolher a designação Hao Pu para o jardim em Beihai, o imperador Qianlong desejava partilhar da felicidade natural e fácil dos peixes nos rios.

Os jardins deram mesmo origem a várias expressões e designações poéticas que se tornaram muito conhecidas. Por exemplo, os caminhos podem serpentear “como gatos que brincam”; cinco pavilhões juntos assemelham-se às “garras do dragão imperial de cinco dedos”; os salgueiros “baloiçam como a cintura delgada de uma dançarina”; as rochas parecem “duendes e bestas selvagens’; a água é onde “a lua lava a sua alma”. Uma abertura circular num muro é uma “porta da lua”; pavilhões sobre a água são “navios”; janelas, portas, balaustradas apresentam o padrão do “gelo que se parte”.

No interior de determinados pavilhões, como os que estavam reservados ao estudo, à habitação e à recepção de convidados, apreciava-se a presença de objectos que evocavam a época de ouro da antiguidade chinesa, como jades e recipientes de bronze das dinastias Shang (1600-1046 a.C.) e Zhou (1046-256 a.C.). (Fig.5)

 

Algumas regras gerais

A primeira obra teórica e prática acerca da concepção e construção de jardins surgiu em 1634 pela mão de Ji Cheng e intitula-se 园冶Yuan Ye (Projectar Jardins). Ji Cheng adverte que, na concepção de jardins “há regras gerais mas não há uma fórmula fixa”. A regra implícita principal consiste em evitar a vulgaridade, su, e buscar a elegância e a sofisticação, ya.

Três princípios condutores a ser respeitados eram a variedade, a diversidade e o contraste yinyang (claro e escuro, sombras e reflexos, grande e pequeno, duro e macio, etc.). Não obstante, na variedade deve subsistir uma ordem, uma ordem que não seja rígida mas confira uma consistência ao todo que não impede uma agradável imprevisibilidade. Trata-se de todo um jogo subtil de equilíbrios.

Os jardins devem evitar cansar o olhar, para tanto consistindo numa série de vistas e recantos o mais diferentes possível, embora interligados entre si de forma harmoniosa: pequenas florestas de bambú, pavilhões aquáticos, pontes, grutas, uma árvore envelhecida, uma aglomeração de rochas… O visitante de um jardim chinês, seja este grande ou pequeno, encontra-se num estado de permanente surpresa (Fig.6).

Os caminhos ao ar livre, por entre grande variedade de vegetação, de árvores e de flores, devem coexistir com caminhos abrigados por corredores que protejam do sol e da chuva (Fig.7).

Era frequente incorporar harmoniosamente no jardim a paisagem já existente em redor, o que se designa por jie jing 借景, ou seja, tomar de empréstimo uma paisagem. Causava-se assim a impressão de que o que se avistava ao longe fazia parte do jardim, magnificando-o, ainda que este pudesse ser de pequenas dimensões.

Alguns elementos

Cenários “montanhas e água”, 山水 shanshui, eram indispensáveis. As montanhas artificiais, construídas de terra, de pedras ou de ambas, já estavam presentes nos jardins desde a dinastia Han (206 a.C.-220 d.C.), mas a noção de 假山 (jiashan, montanhas artificiais) só foi cunhada na dinastia Sui (581 to 618 d.C.). As montanhas artificiais representavam o desejo de virtude e sabedoria, além de, em conjunto com cursos de água, emularem o almejado efeito contrastante yinyang. A água é yin e aquieta a mente; as montanhas são yang e fortalecem o carácter. A água empresta vivacidade ao cenário, as montanhas conferem-lhe elevação espiritual. Outro significado das montanhas, muito importante no seio do taoísmo, é serem vistas como moradas dos Imortais, tal como sucede com as grutas.

De modo a se assemelharem a paisagens naturais, os cursos de água devem apresentar um traçado irregular, fluir e serpentear, desaparecer e reaparecer. De igual modo, os lagos artificiais não devem ser quadrados e regulares, mas sempre de traçado e forma irregulares. Para quebrar a monotonia de uma superfície de água de maiores dimensões esta deve ser atravessada por pontes de diversos formatos que a divida em áreas de diferentes tamanhos (Fig.8).

A água deve ser transparente de modo a poder espelhar as colinas da paisagem, as árvores, o céu e as nuvens. Outro artifício para dar um toque de vivacidade à cena é plantar plantas aquáticas mas sem que ocupem a totalidade da superfície, ou impediriam o gozo da beleza do reflexo na água dos edifícios, das árvores e da lua.

As paisagens shanshui em miniatura, assim como bonsais (盆栽 penzai é o termo chinês; bonsai é o termo japonês, mas a origem da arte de cultivar árvores em miniatura é chinesa), também são usados para decorar o jardim (Fig.9). Além de conferirem elegância, estes jardins dentro de jardins permitem ao visitante ter uma visão do alto da sua própria presença no local, ver o grande no pequeno, o yang no yin.

As pedras e rochas, que evocam em miniatura as montanhas e simbolizam o poder do Dao, também ocupam lugar de destaque nos jardins chineses. São muito comuns nos jardins privados. Pode tratar-se de uma pedra isolada ou de um conjunto delas. Preferiam-se as pedras delgadas e pontiagudas, com brilhos sedutores e contornos extravagantes, esburacadas pelo tempo e pelos elementos, verdadeiras obras de arte esculpidas pela natureza e pela água, em especial as do lago Tai  (Taihu), no delta do rio Yangtse. As pedras Taihu (太湖石 Taihu shi) são de entre todas as mais estranhas e célebres. Como se afirma no Yuan Ye: “as rochas devem ter um aspecto selvagem”. Devem ser colocadas em diferentes alturas e não numa fila ordeira. A partir das que se encontram em lugares altaneiros, deve poder avistar-se um belo cenário e a partir das que se encontram em locais mais baixos deve poder-se brincar com a água (Fig.10).

A paisagem de pedras ganhou uma nova importância a partir de um jardim hoje inexistente, o Genyue yuan, “O Jardim da Montanha da Estabilidade”, o jardim imperial mais representativo da dinastia Song, mandado construir pelo imperador Huizong em 1117 na capital, Bianliang (Kaifeng). O Genyue yuan ostentava rochas provenientes de toda a China, sobretudo pedras Taihu, assim como plantas exóticas. O tamanho de algumas das pedras era tal que, para as conseguir transportar através da água do grande canal, houve que destruir todas as pontes entre Hangzhou e Pequim. No centro do jardim erguia-se uma montanha artificial com cem metros de altura, plena de penhascos e ravinas. Representava as cinco montanhas sagradas da China, assim como os caminhos abruptos das montanhas do Sichuan.

A vegetação deve primar pela variedade. Muita dela era escolhida de acordo com o significado simbólico. As flores de lótus, associadas ao budismo, e os nenúfares, dado florescerem a partir da lama, simbolizam a possibilidade de ascensão a partir de começos pouco auspiciosos.

A peónia simboliza a boa-sorte e a prosperidade. Os pinheiro, o bambú e as ameixeiras não murcham durante a estação fria e são conhecidos como “os três amigos do inverno”. Poderosos e robustos, os pinheiros significam longevidade; rectos e flexíveis, os bambús significam integridade; resistentes e vibrantes, as ameixeiras simbolizam perseverança e esperança. O crisântemo, a orquídea, a flor de ameixeira e o bambú eram considerados os quatro símbolos do carácter nobre dos antigos letrados chineses. O crisântemo está associado à vitalidade e tenacidade e representa uma vida feliz e o desejo de uma reforma tranquila; a orquídea representa autenticidade e virtude.

Os letrados apreciavam acima de tudo o bambú. Os jardins privados não o dispensavam. Su Shi, o poeta, pintor e calígrafo da dinastia Song, comentou: “não comer carne torna as pessoas magras, mas sem bambú as pessoas tornam-se vulgares.”

No norte da China, as árvores que florescem na Primavera, dão sombra no Verão e frutos no Outono e figuravam nos jardins eram as pereiras, as romãzeiras, as jujubeiras, os pessegueiros, as videiras, as macieiras.

No sul da China, a escolha era mais diversificada. Vêem-se bananeiras e bambús nos jardins, dado permanecerem verdes todo o ano. Há ainda os salgueiros para florir na Primavera e o ácer para colorir o Outono. E os pessegueiros, pinheiros e ciprestes, que verdecem todo o ano mas atingem um novo grau de beleza no Inverno, quando se cobrem de neve. (Fig.11)

As plantas aquáticas são seleccionadas e conjugadas criteriosamente. As flores de lótus costumam ser plantadas em locais onde se avistam de longe enquanto os nenúfares, dado serem menores e mais delicados, são plantados em locais onde se possam contemplar de perto, por exemplo, sob as pontes.

Quanto aos elementos arquitectónicos, estes devem estar integrados de forma harmoniosa entre os elementos naturais. A sua função não é tornar-se na atracção principal do cenário mas realçar a beleza da paisagem em redor, além de contribuir para uma apreciação agradável do jardim, oferecendo sombra e descanso. Terraços, portas e pavilhões convidam a que se pare e contemple um cenário da forma mais aprazível. Servem ainda para bloquear vistas indesejáveis ou dirigir a visão para determinadas partes da cena, recorrendo-se para tanto a portas lunares, a janelas com treliças de padrões geométricos ou florais feitas de tijolo ou argila, a vidros com padrões nas janelas, a aberturas na parede dos corredores, etc. (Fig.12)

As portas dos edifícios e as que dão acesso a pátios apresentam com frequência uma silhueta oblonga, outras são em círculo perfeito, outras podem ter a forma de uma flor de ameixeira, de um ceptro ruyi ou de vários tipos de garrafas, conchas, vasos, cabaças… (Fig.13)

Os edifícios presentes nos jardins diferem das casas de habitação comuns. E também aqui a variedade é a norma. Vêem-se salões de recepção ( tang), estúdios ( zhai), bibliotecas, pavilhões da entrada ( xie), pavilhões abertos e triangulares, galerias, corredores ( lang) palacetes de vários pisos ( lou), quiosques (ting)… O pequeno quiosque ting é de grande importância. Dizia-se: “Basta um lugar ter um ting para se poder chamá-lo um jardim”. Há edifícios apropriados para tocar instrumentos musicais, para contemplar uma velha árvore, para observar a lua… (Fig.14)

O solo por onde se passeia não é esquecido. Surge amiúde pavimentado com diversas cores e texturas, com seixos, lascas de pedras ou de tijolos que compõem padrões geométricos, florais ou animais.

Um outro elemento arquitectónico que enfatiza a simbiose entre natureza e cultura são os 流杯亭 liubeiting, os Pavilhões para Taças Flutuantes. O mais conceituado calígrafo da China, Wang Xizhi (303-361 d.C.) e outros quarenta letrados deslocaram-se um dia até ao Pavilhão das Orquídeas nos arredores de Shaoxing, no Zhejiang, para um “encontro refinado” (雅集 yaji). Sentaram-se ao longo da água corrente dos canais e aí levaram a cabo um jogo literário. Depositaram taças de vinho na água e deixaram-nas flutuar rio abaixo. Quando uma taça parava de se mover em frente de um dos letrados, este tinha não só de ingerir o vinho nela contido mas de compor de imediato um poema. O processo repetiu-se até se esgotar o vinho. Posteriormente, os poemas criados nesse dia foram coligidos num volume com um prefácio célebre tanto pela qualidade literária como caligráfica, o 兰亭集序, Lanting Jixu (Prefácio aos Poemas do Pavilhão das Orquídeas), da autoria de Wang Xizhi (Fig15). Mais tarde, os poemas foram gravados em estelas colocadas no Pavilhão das Orquídeas. O Pavilhão das Orquídeas ganhou fama e com ele o seu jogo literário e os paisagistas de jardins passaram a mandar construir pavilhões para taças flutuantes.

 

Os jardins imperiais

Os jardins imperiais chineses que sobreviveram até hoje às vicissitudes da história e da natureza não são muito antigos, ou foram construídos ou reconstruídos na última dinastia chinesa, a dinastia Qing (1644-1912). Todavia, segundo se depreende a partir de registos históricos da dinastia Zhou (ca. 1046-256 a.C.), os seus antepassados foram parques muito extensos para lazer e caça mandados construir pela aristocracia da antiguidade. Registos posteriores, da dinastia Han (206 a.C.-220 d.C.), informam acerca de um interesse emergente na posse de plantas e animais raros. A associação entre rochas e as montanhas dos Imortais já imperava então.

Os primeiros jardins imperiais, isto é, pertença do imperador, têm origem nos parques de caça da nobreza da antiguidade e serviam ainda como demonstração de prestígio e poder. Foi este um dos propósitos cimeiros do primeiro imperador, Qinshi Huangdi, ao mandar construir o 上林 Shanglin (Bosque Supremo), com cento e quarenta edifícios, montanhas e cursos de água e abrigando colecções de plantas e animais raros. Com o imperador Han Wudi foram criados os modelos para as composições rochosas dos jardins posteriores. As classes superiores da dinastia Han também já mandavam construir jardins. Ficaram então formados os princípios básicos, como o par montanha e água, a arquitectura e o cânone tradicional de árvores e plantas.

Mas a grande época dos jardins imperiais foi a última dinastia chinesa, a Qing. O imperador Qianlong, em particular, foi um verdadeiro fou des jardins, chegando mesmo a inventar os parques temáticos. Os projectos dos Qing seguiam de perto o tratado clássico acerca da arte dos jardins, o Yuan Ye de Ji Cheng. E davam ênfase à concepção do jardim como microcosmos do império, ao adoptar técnicas de construção e cenários provenientes de todo o império. Além disso, elementos vindos do Ocidente, requerendo a colaboração de padres jesuítas, foram igualmente incorporados em alguns dos jardins.

Combinando jardins luxuriantes com esplendorosos palácios imperiais, os jardins imperiais eram de uma vastidão impressionante, mesmo os de menores dimensões. Abarcavam vastos cenários com diferentes características, alguns deles tirando proveito da natureza local, outros criados artificialmente. Dada a vastidão, materializavam a concepção muito chinesa de 园中园 yuanzhongyuan, “jardins por dentro de jardins”, que se manteve até ao final do séc. XIX. Criavam-se complexos de jardins dentro de jardins através de divisórias como pátios, muros ou portas, caminhos empedrados e pontes, que iam bloqueando ou desimpedindo a visão. E, para além dos jardins, espraiavam-se campos para cultivar amoreiras e criar bichos-da-seda.

Entre as estruturas arquitectónicas podiam encontrar-se locais para receber a corte, templos para venerar os antepassados e o Buda, óperas, plataformas ou pavilhões para contemplar espectáculos de fogo de artifício, ruas comerciais, edifícios para receber hóspedes e para habitação, para ler e para entreter, etc.

O Palácio de Verão 颐和园 Yiheyuan, em Pequim, foi construído em 1750, mas destruído em 1860. Foi mandado reconstruir pela imperatriz Cixi. É um microcosmos do império em duzentos e noventa hectares. Grande parte da inspiração provém da cidade de Hangzhou e do Lago Oeste, assim como de Suzhou e dos jardins junto ao lago Tai. Ostenta uma cópia do Jardim Jichang na montanha Huishan, o Jardim da Alegria Harmoniosa (Xiequ yuan). Na área por trás do lago desenrola-se uma rua que imita as ruas comerciais de Suzhou e Nanquim.

Para além disto, o jardim do Palácio de Verão recorre à acima mencionada técnica jie jing, pedir de empréstimo a paisagem em redor, avistando-se as montanhas do oeste e a colina Yuquan reflectindo-se no lago Kunming. Além disso, este lago apresenta três ilhas artificiais no centro a evocarem Yingzhou, Penglai e Fangzhang.

A estrutura principal é o templo budista da Grande Gratidão e da Longevidade, mandado construído para celebrar o aniversário da imperatriz Cixi. Mas o centro do jardim, sobre a mais alta plataforma, é ocupado pelo pavilhão octogonal Foxiang (Pavilhão do Incenso de Buda). Entre vários pavilhões vêem-se repuxos de água que foram criados à semelhança dos pavilhões de Versailles pelo jesuíta Benoît. No sopé sul da colina da Longevidade é possível percorrer os setecentos e vinte e oito metros do Grande Corredor e apreciar as suas mais de oito mil pinturas (Fig.16). Não muito longe, situam-se obras-primas da engenharia civil, a Ponte do Cinturão de Jade (Fig.17) e a Ponte de Dezassete Arcos.

  O Parque Beihai 北海公园, em Pequim, conta com uma área de mais de sessenta e nove hectares com um lago que cobre mais de metade. Ergue-se sobre o que foi outrora uma área pantanosa com ligação ao rio Gaoliang. Os governantes da dinastia Jin (1115-1234 d. C.) transformaram o pântano num lago e mandaram construir no centro uma ilha artificial, a Ilha da Flor de Jade, além de ergueram na área o Grande Palácio da Tranquilidade. Os governantes da dinastia mongol Yuan (1279-1368) construíram a sua capital em redor desse Palácio, mas acrescentaram muralhas, renovaram o lago e renomearam-no Lago Tai Ye.

Quando decidiram mudar a capital para Pequim em 1421, os governantes Ming (1368-1644), porém, instalaram-se numa nova Cidade Proibida. O lago Taiye foi outra vez renovado e acrescentaram-lhe vários elementos artificiais. O Parque Beihai tornou-se no jardim mais importante da cidade. Os Qing acrescentaram muitos elementos arquitectónicos e mais área.

O Parque Beihai combina a grandiosidade dos jardins do norte com o requinte dos jardins do sul e exibe uma conjugação perfeita de palácios imperiais e de construções religiosas.

Na Ilha da Flor de Jade ergue-se a sua imagem de marca, o Dagoba Branco de trinta e sete metros de altura. Construído em 1651 no antigo local do Palácio na Lua, foi ali que Kublai Khan recebeu Marco Polo. O Dagoba Branco foi destruído por um terremoto e reconstruído duas vezes. Actualmente, apoia-se numa base de pedra e serve de miradouro com uma bela vista de todo o cenário.

Em frente ao Dagoba Branco encontra-se o Templo Yong’an. Cruzando a Ponte Zhishan avista-se o cenário da margem leste onde se encontram vários jardins independentes, como o acima mencionado Jardim do Ribeiro Hao Pu, criado em 1757 pelo imperador Qianlong. Outro destes jardins é o Estúdio do Coração em Sossego que foi construído na dinastia Ming e ampliado na dinastia Qing. quando membros da realeza ali costumavam descansar ou estudar. Ostenta um jogo de montanha e água, dando a impressão de um vale afastado do mundo e dos seus dissabores, com palácios magníficos, corredores, pavilhões, torres, colinas artificiais e rochas e pedras de formas estranhas. A sudoeste do Muro dos Nove Dragões encontra-se o Pavilhão dos Cinco Dragões, na verdade cinco pavilhões ligados entre si.

No canto sudoeste do Parque avista-se outro jardim independente, a Cidade Circular (Fig.18). Tem uma área de 4500 metros quadrados e está cercado por uma muralha de cinco metros de altura. A construção mais importante é o Pavilhão Chengguang, de forma quadrada e coberto com azulejos amarelos, que abriga uma estátua preciosa de Buda de jade branco, proveniente da Birmânia. Infelizmente, as forças aliadas de oito potências estrangeiras invadiram e ocuparam Pequim em 1900 e saquearam a Cidade Circular, levando consigo vários tesouros e antiguidades.

O Jardim do Perfeito Esplendor 圆明园Yuanmingyuan, também conhecido como o Antigo Palácio de Verão, era cinco vezes maior do que a Cidade Proibida. Demorou duzentos anos a ficar completo, a ele se tendo dedicado vários imperadores: Kangxi, Yongzheng, Qianlong, Jiaqing, Daoguang e Xianfeng. As estruturas e cenários mais importantes foram nomeados pelos próprios imperadores.

Tratava-se de um palácio de Verão constituído por três jardins, o Yuanmingyuan (Jardim do Perfeito Esplendor), o Changchunyuan (Jardim da Eterna Primavera) e o Qichunyuan (Jardim da Deslumbrante Primavera), na verdade extensos parques de lagos e de rios. Mais de cento e vinte locais cénicos eram jardins de menores dimensões interligados por uma rede de rios e de passagens que se expandiam gradualmente em direcção ao jardim principal, de tal maneira que dava a impressão de se caminhar em diferentes territórios de um espaço sem fim. Era por isso conhecido também como万园之园, “o jardim dos (dez mil) jardins”. Havia réplicas de seis paisagens do Lago Oeste de Hangzhou, como a Cascata de Jade para Ver os Peixes, o Pátio dos Lótus Dançantes, a Lua Reflectida nas Três Lagoas, os Sinos Tocando ao Anoitecer em Nanping, a Lua de Outono no Lago Tranquilo e os Papa-figos na Floresta de Salgueiros. Havia ainda réplicas do Jardim da Floresta do Leão e de uma rua comercial de Suzhou, do jardim Zhan de Nanquim e do Pequeno Lago Oeste em Yangzhou. Havia um museu imperial que abrigava uma colecção extraordinária de artefactos históricos e artísticos. E havia um grupo de estruturas no estilo ocidental com elementos chineses na forma e na decoração, construídas no reinado de Qianlong, como as Mansões Ocidentais, palácios e jardins no estilo barroco do séc. XVIII desenhadas por missionários ocidentais. Este jardim magnífico foi destruído e saqueado por forças francesas e inglesas em 1860 e dele apenas restaram ruínas, entre as quais um labirinto ao estilo ocidental que, devido às linhas rectas e à ausência de cenários para contemplar, desagradava aos chineses.

O Jardim do Palácio da Longevidade Tranquila (宁寿宫花园Ningshou gong huayuan), é um jardim de pequenas dimensões no interior da Cidade Proibida, apenas com cento e sessenta metros de comprimento e trinta e sete de largura. Foi projectado e mandado construir pelo Imperador Qianlong na década de 1770 e, como o nome indica, era um retiro para passar os seus últimos anos de vida. Constitui uma pequena mas opulenta súmula das técnicas tradicionais de construção de jardins e conta com vinte e sete pavilhões com interiores decorados, assim como quatro pátios, eles próprios com jardins ornamentais, além de grutas e velhas árvores. Entre os pavilhões encontra-se o Juanqinzhai (倦勤斋), ou Estúdio do Cansaço por Serviço Diligente, destinado ao gozo dos anos de reforma; um liubei ting (Pavilhão das Taças Flutuantes) chamado Pavilhão da Doação de Vinho no Pavilhão Xi Shang; e um teatro privado com milhares de pinturas murais trompe l’oeil concebidas pelo missionário jesuíta italiano Giuseppe Castiglione e executadas pelo seu assistente, Wang Youxue.

O parque da Mansão na Montanha para Escapar ao Calor (避暑山庄 Bishushanzhuang), situa-se a duzentos e cinquenta quilómetros de Pequim, em Chengde, a antiga Jehol dos imperadores Qing, e servia como residência de Verão. A superfície aquática é muito vasta e conta com mais de cento e dez edifícios. A construção começou com o imperador Kangxi em1702 e terminou em 1792 com Qianlong. Trata-se do mais extenso jardim imperial da China e é uma réplica em miniatura do “mundo sob o céu”. Combina harmoniosamente paisagens do norte e do sul da China e várias paisagens com pedras, além de ostentar cópias de templos chineses, tibetanos e mongóis. Recorre várias vezes ao jie jing, o empréstimo de paisagens em redor.

 

Os jardins privados

A partir da dinastia Han, os membros das classes altas foram construindo jardins cada vez mais elaborados. Do século IV d.C. em diante, a literatura e depois a pintura e os livros históricos mencionam um tipo de jardim de pequenas dimensões que pertencia a letrados, considerados um reflexo do seu bom gosto e elevação cultural e moral. No sul da China, em especial, o número de jardins privados foi aumentado a partir do séc. XII. Nas dinastias Ming e Qing, o Jiangnan tornou-se no centro dos jardins privados, devido ao clima temperado e ao solo rico em minerais, em água e em plantas, além de poder contar com uma sociedade rica e próspera.

Os jardins privados eram propriedade de letrados, oficiais da corte, terratenentes e comerciantes abastados. Os letrados pretendiam gozar de momentos de tranquilidade e socializar com amigos e artistas. Na dinastia mongol Yuan, os letrados Han evitavam exercer empregos oficiais e também se tornou mais difícil consegui-los. De acordo com o pensamento confucionista, quando não é possível servir os outros, há que nos cultivarmos a nós próprios de modo a servir os outros melhor numa oportunidade futura. Por outro lado, o taoísmo advogava a renúncia aos assuntos mundanos e o regresso à natureza. Assim, muitos letrados resolveram dedicar-se ao auto-cultivo e às artes, entre elas a arte dos jardins, locais de contemplação e actividades literárias onde também o convívio entre amigos era celebrado. Esta tendência manteve-se na dinastia Ming, época de grande prosperidade económica, de alfabetização crescente e de expansão da imprensa que tornou possível a emergência de uma nova classe de patronos educados. Na dinastia Ming, os jardins eram tão importantes que não era incomum o proprietário identificar-se com o seu jardim, adoptando como apelido ou pseudónimo o nome dele ou de um dos seus recantos. Procurava desse modo mostrar quem era e que tipo de valores abraçava.

Cansados de guerras, da política e dos deveres burocráticos, os oficiais desejavam libertar-se momentaneamente dos seus deveres ao mesmo tempo que afirmavam o seu estatuto na sociedade com a posse de um jardim privado. Por seu turno, os mercadores desejavam com eles ostentar a sua riqueza.

Construídos geralmente nas cidades ou nos seus arredores, os jardins privados eram quase sempre também locais de residência, com pavilhões para habitar, receber hóspedes, estudar e entreter. Distinguem-se pela construção primorosa e pelo estilo refinado.

Eivada de influências confucionistas e taoístas, dominava a construção destes jardins a estética dos letrados. Abominava-se a ostentação e venerava-se a simplicidade, a elegância e a afinidade com a natureza.

Dada a escala diminuta, os jardins privados requeriam grande engenho e criatividade por parte de quem os concebia. Eram pequenos mas tão tortuosos que levavam mais tempo a percorrer do que se suporia e, no final da visita, não se conseguia decifrar o plano e ficava-se com a sensação de que muita coisa escapara. Ou seja, criavam um efeito de labirinto sem o parecer, sem nada de um labirinto ocidental.

Recriavam-se macro cenas poéticas em micro-escala e tornava-se imprescindível recorrer à técnica de jie jing, tomar de empréstimo a paisagem distante como pano de fundo, de modo a evocar a sensação de grandeza. O jardim devia pontilhar-se de locais esconsos, recantos secretos e grutas, úteis no Verão e associadas aos Imortais. Mas desses locais esconsos devia poder-se vislumbrar cenários longínquos. Uma outra prática era dividir o espaço em segmentos menores, mas sem nunca os separar totalmente, o que permitia o usufruto de uma vista panorâmica relativamente independente. Utilizavam-se como divisórias muros, paredes, corredores, colinas artificiais e árvores. Nenhum deles devia ser muito alto e os muros, além de portas, ostentavam com frequência janelas por onde se podia vislumbrar o exterior.

Era mister praticar o bloqueio de cenas, pois considerava-se de extrema vulgaridade poder abarcar-se o jardim com um todo (Figs. 19 e 20). De modo a preservar o elemento surpresa e dar largas à imaginação, criando uma experiência intensa de expectativa crescente, os diversos cenários deviam encontrar-se parcialmente ocultos e irem-se desdobrando à medida que o visitante caminhava. Ocultavam-se parcialmente os edifícios com trepadeiras ou outra vegetação. Era indispensável a presença do insólito e do inesperado e a aparência dos pavilhões também devia variar, podendo ser quadrados, oblongos, circulares, pentagonais, hexagonais, duplamente circulares, etc.

Empregavam-se largamente técnicas pictóricas na construção dos jardins. Dava-se preferência a paredes e muros brancos e a caligrafia e pintura monocromáticas (Fig.21). Não se escolhia vermelho vivo e dourado para a pintura de portas e janelas, como se vê nos jardins imperiais. Nem se usa tinta colorida em colunas e vigas nem telhas de cinco cores. As telhas são achatadas e de cor escura, as vigas castanhas e os tijolos cinzentos. Os bambús e demais vegetação, cuidadosamente escolhidos pelas suas formas e tons ricos de verde, eram plantados de modo a projectarem sombras escuras nas paredes brancas, num efeito yinyang.

Como é do conhecimento geral, Suzhou é considerada actualmente a cidade-jardim da China. Todavia, nem sempre assim foi. Suzhou começou a ganhar essa fama apenas no final da dinastia Qing. A cidade-jardim era Yangzhou, mais ao norte, como atesta uma fonte do séc. XVIII: “Hangzhou é famosa pelos seus lagos e colinas, Suzhou é famosa pelas suas lojas e mercados, Yangzhou é famosa pelos seus jardins”. Considerados superiores ao de Suzhou, os jardins privados de Yangzhou foram, porém, destruídos por guerras na sua maioria. Hoje em dia, são os jardins privados de Suzhou os mais conhecidos e fazem parte do património mundial da UNESCO, entre eles o Jardim do Mestre das Redes (网师园 Wangshiyuan), da dinastia Song, o Jardim do Humilde Administrador (拙政园Zhuozhengyuan), o Jardim Onde Permanecer (留園 Liuyuan) e o Jardim do Cultivo (艺圃 Yipu), da dinastia Ming, o Jardim da Floresta dos Leões (狮子林园Shezi linyuan), o Jardim da Mansão da Montanha com Beleza Abrangente (环秀山庄 Huanxiu shanzhuang), o Jardim do Pavilhão da Grande Onda (滄浪亭 Canglang ting), o Jardim do Casal (耦园Ouyuan) e o Jardim do Retiro e da Reflexão (退思园Tuisi yuan).

No norte, todavia, também se encontram jardins privados. O maior e mais bem preservado jardim privado do norte situa-se em Pequim e é o jardim da Mansão do Príncipe Gong, (恭王府Gong wang fu) (Fig.22). Há quem defenda que serviu de modelo para o jardim 大观园  Daguanyuan (Jardim da Grande Vista), que vem descrito no capítulo XVII do célebre romance do séc. XVIII, O Sonho do Pavilhão Vermelho, da autoria de Cao Xueqin. Por sua vez, em 1984 construiu-se no sudoeste de Pequim um jardim em tamanho real de acordo com a descrição que Cao Xueqin fez no seu romance do Daguanyuan e que ostenta o mesmo nome.

O tema do morcego (fu em chinês é palavra homónima de fu, fortuna, riqueza) é omnipresente. Há mesmo um lago com a forma de morcego, construído com pedra verde. Em volta do lago plantaram-se ulmeiros que, a dada altura do ano, largam sementes em forma de moedas sobre a água, o que exacerba a atracção da fortuna. Por trás de uma pequena lagoa esconde-se a Gruta da Nuvem Secreta, dentro da qual há uma estela com o caracter “fortuna” inscrito pelo imperador Qianlong. Existe um grande palco para ópera, uma pedra Taihu com cinco metros de altura e um liubeiting, o “Pavilhão das Taças Flutuantes”, com um canal serpenteante de dez centímetros de largura (Fig.23).

 

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Bibliografia

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  • Heseman, Sabine (2000) Ming: tradiciones e innovaciones e La dinastia Qing, in Farh-Becker, Gabriele (org.) Arte asiático, Colónia: Könemann
  • Keswick, Maggie (1978) The Chinese Garden. History, Art and Architecture, Londres: Academy editions
  • Lou Qingxi (2003) Chinese Gardens, Pequim: China Intercontinental Press
  • Yu Sui, Wei Xun (2011) Chinese Gardens, Hong Kong: Design Media Publishing Ltd

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