O Quinto Romance feminismo, sátira ou pornografia?

金瓶梅, Jin Ping Mei, ou Ameixa em Vaso Dourado (também traduzido por Lótus Dourado)é um romance chinês naturalista, composto em língua vernácula  (dialecto Wu) durante a Dinastia Ming (1368 -1644). Foi escrito por 蘭陵笑笑生, “O Sátiro de Lanling”, pseudónimo do autor cuja identidade permanece desconhecida. Existem algumas versões anteriores deste romance, mas apenas em forma de manuscrito: a primeira colectânea impressa data de 1610. A versão integral é composta por 100 capítulos, compreendendo um total de mais de 1000 páginas.

Jin Ping Mei é considerado o Quinto Romance Clássico, no seguimento dos Quatro Grandes Romances Clássicos compostos por Peregrinação ao Oeste, Três Reinos, Shui Hu (À Beira d’Água) e Sonhos da Câmara Vermelha. A sexualidade explícita que transparece das suas páginas granjeou-lhe uma notoriedade na China, equivalente a Fanny Hill no Ocidente.

Ao contrário dos quatro romances clássicos, Jin Ping Mei tem permanecido um enigma devido aos seus subterfúgios literários, que abrem as portas a interpretações menos ortodoxas.

Por exemplo, as cenas de sexo detalhadas podem ser interpretadas como uma descrição da condição da mulher na China antiga. A história de Jin Ping Mei desenvolve-se em torno de Ximen Qing, um mercador rico e libidinoso que subiu a pulso na vida e que possui várias esposas e concubinas.  As suas actividades sexuais trazem a cena três tipos de mulheres:

1. Li Ping’er e Han Aijie, que fazem sexo por amor. 2. Madame Lin, que faz sexo pelo sexo. 3. Muitas outras que fazem sexo por dinheiro. Pan Jinlian, a heroína da novela, combina os três tipos. Pan desfruta do sexo, acredita no amor e não se importa de fazer uns jeitos para melhorar o seu estilo de vida. Pan Jinlian é na verdade uma personagem complexa e, talvez por isso, o autor a tenha tratado de forma negativa. Dum ponto de vista actual, Pan Jinlian poderia ser considerada uma feminista avant-la-lettre.  Enquanto cronista do período Ming, o autor revela algumas intenções moralistas, comparáveis às do pintor holandês, seu contemporâneo, Jan Steen, cujas pinturas foram em grande número fábulas sobre os perigos da falta de contenção.  A ideia da libertação da mulher não ocorria a ninguém na China do séc. XVII e, como tal, o autor decidiu abrir fogo sobre outro tipo de problemas sociais como a hipocrisia e a corrupção que grassavam na China daquele tempo.  Faz ainda mais sentido se considerarmos o pseudónimo que escolheu, 蘭陵笑笑生, “O Sátiro de Lanling”. Enquanto romance de cariz social, Jin Ping Mei é uma sátira reveladora e eloquentemente hilariante, mas nunca perdemos de vista que a ironia é inspirada pela realidade nas suas diferentes facetas. 

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