Por versos nunca dantes traduzidos

No ano passado, completaram-se 500 anos do nascimento daquele que é considerado o maior poeta português de todos os tempos. Luís de Camões, autor da epopeia “Os Lusíadas”, nasceu em 1524, navegou pelos mares e percorreu terras por onde os portugueses andaram, nomeadamente Moçambique, Goa e Macau, entre outros, e sobre eles deixou poemas e escritos em cartas. A sua importância está espelhada nas comemorações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das comunidades portuguesas.

Parte substancial da obra de Camões vai agora ser traduzidas para chinês graças a um projecto que tem vindo a ser desenvolvido pela Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa). Filipe de Saavedra, especialista na vida e obra de Luís de Camões, docente e investigador nesta universidade e doutor em Estudos Portugueses, falou à Via do Meio sobre o projecto.

“As nossas traduções sairão ao abrigo de um projecto em curso na UCTM [MUST na sigla em inglês] onde se prevê a tradução integral para chinês de todos os géneros líricos e das cartas de Camões. Os alunos são ali expostos ao poeta desde o primeiro ano da Licenciatura em Estudos Portugueses até ao mestrado, e a resposta deles é entusiástica. Temos trabalhos de grande qualidade feitos por eles e publicados no canal YouTube ‘Português em Macau’. Já tínhamos tido igual sucesso com os alunos indonésios. Neste momento, o número de projectos de vídeo sobre Camões já publicados ultrapassa as duas centenas”, confessou.

“O projecto mais ambicioso é o da edição crítica da obra, a que estamos a dar início pelas cartas e pelas odes. Irá combinar os esforços acumulados de várias gerações de estudiosos com as nossas novas leituras dos manuscritos, e novas interpretações. Será o contributo mais duradouro e mais necessário suscitado por estas celebrações”, acrescentou o camonista.

A MUST tem também o projecto de atelier de teatro em que “os alunos representam Camões”, além de que “no concurso de poesia deste ano os alunos escolheram recitar Camões, demonstrando grande sensibilidade à sua poesia”. Para Filipe de Saavedra, “a semente está lançada, e dali sairão os tradutores e camonistas do futuro”.

Tendo em conta a forte ligação de Macau a Luís de Camões, o território acolheu, no ano passado, o “I Congresso do Meio Milénio”, com representação de académicos de vários países com estudos em torno da figura, obra e vida de Luís de Camões.

O balanço feito por Filipe de Saavedra é bastante positivo. “Trouxemos já por três vezes o mestre-tradutor Zhang Weimin, sempre com o apoio da Fundação Oriente, que deu várias aulas magistrais sobre como traduzir Camões para mandarim aos alunos dos cursos mais avançados da UCTM.”

Nesse contexto, a MUST tem estabelecido “protocolos com universidades estrangeiras onde existem centros camonianos, para iniciativas em comum”.  Um dos mais recentes foi com a Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, para a realização da segunda edição do mesmo congresso, que decorreu em Junho, em Maputo e na Ilha de Moçambique.

 


 

A principal obra de Camões, “Os Lusíadas” (《卢济塔尼亚人之歌》), foi traduzida para chinês pelo professor e especialista em estudos lusófonos Zhang Weiren (张维民) em 2008. Esta tradução é considerada a primeira versão completa e directamente do português para o chinês, com anotações explicativas sobre a cultura e história portuguesas. O título em chinês, 《卢济塔尼亚人之歌》, significa à letra “A Canção dos Lusíadas”, tendo o livro sido directamente traduzido do português, diferindo de versões anteriores baseadas em traduções inglesas ou francesas. Zhang Weiren procurou preservar o estilo épico e a métrica original, adaptando-a para um formato mais acessível ao leitor chinês. Em 2012, uma edição bilingue (português-chinês) foi lançada para fins académicos, sublinhando a influência de Camões na literatura mundial.

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