Ganbei! Palavra em voz alta pronunciada em uníssono a significar esvaziar o copo, mais propriamente secá-lo num único trago, antes de se brindar com ele cheio de vinho. Bebe-se todo o líquido e como prova vira-se para baixo, de onde não deve cair um único pingo. De pé repetimos o que vemos fazer. Uma volátil fragância perfuma toda a sala e o sabor forte anestesia a boca e um ardor escorre garganta abaixo. O anfitrião enche-nos então o copo de chá e em pequenos golos este líquido vai dissolvendo e aligeirando o teor de álcool, que segundo a garrafa atinge os 57º.
Nova rodada é servida, variando o copo de tamanho mediante a latitude e se no Sul da China o cálice é pequeno, já no Norte os copos bem maiores por três vezes são cheios e entornados de um só trago para aquecer o ambiente.
Ganbei!… (pelo melhor) e de pé, por respeito, com as duas mãos erguem-se os copos chocando com os das pessoas ao redor da mesa e sendo esta grande, então o toque é feito no redondo e rotativo vidro, onde se encontram os pratos de comida partilhada. No restante redondo tampo da mesa exterior estão os objectos de uso pessoal, guardanapo, os pauzinhos muitas vezes de bambu a retirar as mãos da comida, a pequena colher de porcelana, sem nunca haver garfo e muito menos faca. Já sobre um pequeno prato, para onde se deita o que não se come, está uma tigela a servir de suporte a proteger os alimentos quando retirados das travessas até chegarem à boca, ou a arrefecerem à espera de serem comidos e para beber, aí está o copo de vinho e do chá. A sopa vem numa terrina e o empregado traz as tigelas para servir a cada um dos presentes o delicado e refinado líquido, após cozer durante horas peixe ou carne, legumes e leguminosas, apresentados num prato ao lado. Já a tigela do arroz, também individual, nos banquetes só aparece no final da refeição, caso haja ainda fome. O chá está sempre presente, tanto no restaurante a acompanhar o vinho, ou em casa durante a visita, desde as boas vindas até à despedida.
Na China, quando se fala de vinho, apesar de existir o de uva, está-se a referir ao Bai jiu, vinho transparente feito por destilação de cereais ou de arroz e alcoolicamente muito forte. Por vezes a poder passar os 50°, é o usado sobretudo para os preparados medicinais, ou a libertar a essência aos poetas e artistas. Mas há com um teor alcóolico mais baixo, a ficar nos 30° e 15° para moderando se beber por convívio. Por vezes amarelado, esse é o huang jiu feito através da fermentação do arroz.
Servido em pequenos cálices, o vinho é esvaziado num só trago. Ao lado, para dissolver o ardor, o chá deitado quente do bule na chávena sem asas.
Ganbei! À saúde de todos os presentes e de pé, num pequeno gesto eleva-se o copo cheio e mediante o respeito para com a outra pessoa, ou por hierarquia confucionista, se toca no outro copo com a borda do nosso mais alto, qual superior, ou ao mesmo nível, ou por baixo, em posição inferior, não significando isso inferioridade, sem sentido, pois tem a direcção do ritual. De um trago bebe-se todo o vinho.
Após o terceiro Ganbei, a porta abre-se para o mundo do espírito, onde despidos do racional controlo se expõe como somos e quem se é, visão do grau de educação, momento propício para iniciar amizades e negócios.
Li Bai (701-762) escreveu a maioria dos poemas sob o efeito do vinho e o também poeta Du Fu (712-770) refere-o com uma frase, cuja livre tradução diz: “Cem poemas por cinco litros” e justifica-o acrescentando, Li Bai bebia imenso vinho de arroz para se aquecer do frio que fazia ao ar livre no mercado de Chang’an (Xian) onde muitas vezes dormia.
VINHO NA REFEIÇÃO
Em Beijing atravessávamos a Rua Dazhalan quando, numa casa térrea de portadas vermelhas, alguém ao sair nos dá a ver o interior de uma taberna antiga. Entramos e nas paredes de madeira estão dependuradas tabuinhas de bambu a referir os pratos do dia e os produtos da loja. Olhando para as mesas de banco corrido, reparamos todos a comer em tigela e a acompanhar a refeição com uma pequena garrafa. Por gestos, apontámos para uma mesa e pedimos o mesmo. Assim ocorre o nosso primeiro contacto com o vinho chinês, sendo-nos servido como vinho da casa o destilado “er guo tou” para acompanhar a sopa de massa em fitas com uma peça de carneiro. A rudeza do sabor e aroma do vinho assemelha-se ao bagaço, tal como na transparência.
O “er guo tou” é um vinho destilado feito em Beijing e quando mais tarde falando com um habitante de Sichuan sobre a nossa experiência de vinho chinês, logo ele se apressa a ir buscar uma garrafa e faz-nos provar o licor “Wuliangye”, de Yibin. Produzido na sua terra como faz questão de sublinhar, enquanto o vai servindo em pequenos cálices explica ser o “er guo tou” do mesmo tipo de vinho mas de uma qualidade muito inferior.
Na recepção de outro restaurante, dois enormes potes com dragões esculpidos guardam o vinho de arroz, aperitivo para as lautas refeições servidas no primeiro andar. Chegado à enorme sala de jantar, séries de pequenos potes de vidro com diferentes tipos de vinho dão a escolha para acompanhar os múltiplos pratos de comida, que vão sendo colocados ao centro da larga mesa redonda, sob uma placa de vidro, também redonda, que gira e de onde as pessoas se servem, desde o carneiro de Harbin, ao agridoce de Guangzhou. Das portas dos privados, íntimos compartimentos para reuniões e festas, a algazarra sobe ao tom do jogo de dedos, ritmadamente gritando um número a duas vozes.
A garrafa de vinho jogada ao copo esvaziadamente bebido por quem perde. O copo é repetidamente enchido e lá recomeça o jogo dos dedos num embriagado alarido a denunciar o estado dos intervenientes. Relacionado com a Teoria dos Cinco Elementos (Metal, Madeira, Água, Fogo e Terra), representantes de forças cósmicas que se promovem e reprimem uns aos outros, num jogo de intuição nenhum é mais forte nem mais fraco que os restantes. Assim como o polegar perde para o indicador, o indicador para o médio, o médio para o anelar, o anelar para o mindinho e este para o polegar, também o Metal corta a Madeira, a Madeira a Terra, a Terra a Água, a Água o Fogo e o Fogo o Metal.
Ponbei é quando se brinda sem tilintar os copos e se saboreia o perfumado vinho bebendo-o em pequenos golos a ensedar a boca.
No tropical calor do Sul da China, a ementa mostra uma variedade de pratos que alimentam o gosto de estar à mesa em animadas conversas, enquanto se intercala o petiscar com o bebericar em delicados travos o vinho de um pequeno cálice, onde pelos sentidos se aprecia os mais leves pormenores.
De seguida, um golo numa pequena taça de chá. Enche-se depois o bule com água fervida guardada no termos, por vezes colocado por baixo da mesa, e fechando as rodadas de vinho, o chá para limpar, pois quente ajuda a dissolver as gorduras. Em procura, como significava o antigo carácter para chá, primeiro dilui o teor alcoólico, servindo no dia seguinte para limpar a ressaca. Daqui passamos à História do Vinho na China.
O País do Meio e o seu Vinho
A degradação dos alimentos mal armazenados leva à sua fermentação e a ganharem teor alcoólico, chegando-se assim à maneira de fazer bebidas espirituosas. Daí a origem do vinho se relacionar com o período Neolítico, iniciado pela Revolução Agrícola pois a Natureza já não dava alimentos suficientes e foi necessário pegar nas sementes e plantar. Começou-se a produzir os produtos alimentares e para guardar os excedentes criaram-se potes de barro.
Os primeiros vinhos na China foram feitos a partir da fermentação de arroz, cana de milho e milho-miúdo e se a maior parte dos livros nos falam da técnica de produzir vinho há quatro mil anos, essa data recua um milénio pois na província de Shandong foram descobertos nas ruínas da Cultura Dawenkou (4300-2500 a.n.E.) potes de vinho com mais de cinco mil anos. Vasilhas para cozer os ingredientes, algumas para a sua fermentação e outras para o armazenar, encontrando-se também copos, demonstra estar na altura já desenvolvida a técnica de fazer vinho e ser o seu consumo uma prática corrente. Entre os achados arqueológicos estavam entre os potes pretos da Cultura Longshan (2800-2300 a.n.E.) vasos para guardar vinho.
A História da dinastia Xia (2070-1600 a.n.E.) refere os inventores do líquido que influenciaria a vida tanto de monarcas como da população e bebido animava-as, mas também causaria muitos desastres. Dessa época são Yi Di e Du Kang, entronizados Deuses patronos da criação do Vinho.
Registado nos “Anais da Primavera-Outono do Mestre Lu” (Lu shi Chunqiu) do ano de 230 a.n.E., encontra-se Yi Di como a primeira a produzir vinho, mas segundo o “Dicionário Analítico dos Caracteres“ (說文解字, Shuowen Jiezi) escrito por o paleógrafo Xu Shen (許慎, c.58-148) foi Du Kang, o Rei Shao Kang, sexto dessa dinastia e bisneto de Da Yu, quem primeiro produziu vinho a partir de sorgo glutinoso.
O livro “Estratégias do Período dos Reinos Combatentes” conta a história da princesa Yi Di se apresentar ao Rei Yu (Da Yu, o primeiro rei da dinastia Xia, que governou durante 45 anos) com um saboroso vinho e este predisse, muitos reis haveriam de se perder e aos seus reinos devido a ele. E não foi preciso ir muito longe pois Jie, o último rei da dinastia Xia, completamente bêbado caiu no poço do seu castelo e o vinho levou-o a uma vida desregrada e à sua degradação até perder o reino em favor da dinastia Shang. História narrada em “Biografias de Especiais Mulheres” (列女传), redigido nos finais da dinastia Han do Oeste por Liu Xiang (刘 向), que refere: “o Rei Jie tinha no seu jardim real um tanque tão grande onde cabiam vários botes, e que estava cheio de vinho. Ordenava que pendurassem grandes pedaços de carne cozida nas árvores das colinas da vizinhança e ali passava seus dias, em pândegas, com suas beldades”, entre elas três mil bailarinas. Continuando no livro “Mitos e lendas da China” de Wei Tang, “Entregue de corpo e alma a diversões, Jie não se preocupava com os assuntos estatais. Certa vez, passou mais de cem dias encerrado em seu palácio sem se avistar com os ministros,” e quando lhe chamaram a atenção para a vida dissoluta, entregue apenas a luxos e extravagâncias, poder provocar a ruína do país, Jie riu e respondeu: “Tudo o que há sob o céu me pertence. Sou como o sol no céu. Acaso se extinguirá o sol?” Ditas estas palavras, continuou a se entreter.
Reinava há mais de cinquenta anos e o desgoverno e as práticas desumanas do Rei Jie, levou o príncipe Tang do estado Shang a declarar-lhe guerra. Em Wutiao, a Norte da actual Kaifeng (província de Henan), ocorreu a última batalha entre as tropas de Xia e Shang e o Rei Jie, convencido ser imbatível, levou consigo as suas concubinas para a frente de batalha, referindo ser mais divertido do que observar uma caçada. Apesar de já não contar com alguns dos seus antigos vassalos, o poderoso exército da dinastia Xia lutava contra as forças Shang quando uma forte tempestade se abateu e o pânico se instalou nas suas hostes, levantando então a coragem às tropas do príncipe Tang do reino Shang. Jie percebendo estar a perder a batalha, ordenou a retirada, mas foi perseguido até à sua capital Yin (Anyang, em Henan), sendo aprisionado e condenado ao exílio.
Pote de vinho da dinastia Shang, com mais de 3000 anos
BANHOS COM VINHO
Cinco séculos depois, devido ao vinho e à imoralidade do seu governante ocorreu a queda da dinastia Shang (1600-1046 a.n.E.). O vinho tornara-se indispensável na vida das pessoas e os ossos de oráculos registavam já uma variedade de vinhos e para além do feito com milho, havia-o produzido com arroz, chamado li e com painço preto, denominado chang, usado nas cerimónias de sacrifício nos rituais aos antepassados.
O “Livro de História” (Shu Jing), na secção da dinastia Shang (Yin), alude a apenas se beber vinho nas cerimónias de sacrifício e por virtude, devia-se prevenir o não ficar embriagado. Os Oficiais ligados a essas cerimónias estavam proibidos de o beber e quem fosse apanhado devia ser enviado ao Rei para ser punido.
O Rei Zhou, o último da dinastia Shang, pensando poder fazer o que lhe apetecia, pois era o soberano, abusava diariamente do vinho e perdeu a virtude, sem nunca mais se importar com o seu povo e até o Deus do Céu o puniu e daí a dinastia acabar. No seu palácio havia um enorme tanque, não de água mas cheio de vinho, onde nas constantes festas se banhava nu em jogos eróticos com a sua concubina predilecta Daji e era tal a diária bebedeira, que não sobrava cabeça ao Rei para tratar dos assuntos do Estado. Tirano debochado, fazia punir e executar oficiais honrados e honestos a seu belo prazer, enquanto o exército Shang andava em constantes guerras intermináveis com cidades e tribos em rebelião.
Parte das suas forças encontrava-se a lutar contra o Reino de Yi quando o Rei Wu do Reino de Zhou, situado no vale do Rio Wei, província de Shaanxi, mandou as suas tropas invadir Yin (actual Anyang), a capital da dinastia Shang. A batalha ocorreu em Muye, a cerca de 35 quilómetros de Yin, e apesar do exército Shang ser maior, vinha exausto e enfraquecido devido à sua dispersão e sobretudo ser na maioria constituído por escravos que, descontentes pelos maus-tratos, se revoltaram e juntaram às do Reino de Zhou, capitaneadas por Wu, que se considerava descendente da dinastia Xia. Derrotado, o Rei Zhou de Shang fugiu para a sua capital, onde lançou fogo ao palácio e morreu queimado entre os escombros. Terminava assim a dinastia Shang e o Rei Wu tornou-se o primeiro soberano da dinastia Zhou do Oeste (1046-771 a.n.E.).
Uma das suas primeiras ordens foi proibir o vinho e decretar a abstinência no feudo Wei, de onde era originária a dinastia Shang e governado então por Wu Geng, filho do defunto Rei Zhou, que antes da guerra desertara para as fileiras do Rei Wu.
No País do Meio (Zhong Guo) o Rei Wu (1046-1043 a.n.E.) criou uma autoridade para regular e manter sob estreita vigilância a produção e consumo de vinho, preparado especialmente para uso no ritual das cerimónias de sacrifícios, sendo apenas levemente fermentado.
Vinhos para comemorações
Durante a dinastia Xia (2070-1600 a.n.E.), a princesa Yi Di usando arroz glutinoso fizera vinho amarelo com cinco diferentes sabores e Du Kang desenvolveu a técnica de produção pela fermentação de sorgo e daí ficarem considerados na China os deuses Patronos da Criação do Vinho, apesar deste existir já há mais de cinco mil anos. Com grande teor alcoólico bastava um copo de vinho para embriagar quem o bebesse e daí a necessidade de regras tanto para o consumir como para o fazer.
Com o exemplo da queda das duas anteriores dinastias, a Xia e a Shang, na dinastia Zhou do Oeste, o Rei Wu (1046-1043 a.n.E.) criou uma autoridade para regular e manter sob estreita vigilância a produção e consumo de vinho. Este era feito com milho, arroz e o denominado chang, produzido com painço preto e preparado especialmente para o ritual das cerimónias de sacrifícios, sendo apenas levemente fermentado e logo de seguida consumido.
Nessa dinastia ocorreu o uso de fermento no vinho para lhe dar maior vigor alcoólico, começando a ser fabricado sob licença e eram precisas seis etapas para a sua confecção, segundo o registado no Livro dos Ritos (Li Ji). Constavam: ter o milho completamente amadurecido, água pura, tempo suficiente para fermentar, instrumentos limpos para manusear, apropriado calor, assim como boas e limpas vasilhas para armazenar. O vinho feito com estas precauções era excelente e gostoso.
Do Período dos Reinos Combatentes (475-221 a.n.E.), nos túmulos descobertos nos anos 70 do século XX no concelho de Pingshan, província de Hebei, foram encontrados inúmeros potes e dois deles ainda continham vinho feito de trigo de há 2280 anos.
Na dinastia Han (206 a.n.E.-220), devido ao grande progresso na agricultura houve um incremento da produção de grão e daí aparecer o sake, o licor chinês, o vinho tinto, o vinho da primavera, o vinho rehmannia resinoso e o vinho de mel. No reinado do Imperador Wu (Wu Di, 140-87 a.n.E.) o vinho foi taxado e o seu preço aumentou. No segundo século da nossa Era surgiu o monopólio do vinho e na Dinastia Tang (618-907) começou o monopólio da sua venda, sendo criadas as lojas imperiais de vinho fino. O poeta Bai Juyi (772-846) refere-se à destilação, que apareceu durante esse período, sendo o vinho bebido em copos mais pequenos, não existentes anteriormente. Li Bai (701-762) falava já do vinho de Lanling e Du Fu (712-770) do vinho Chongbi. Ainda durante a dinastia Tang, o cultivo de uvas e a produção de vinho dava um imenso lucro.
Na dinastia Ming (1368-1644), o licor destilado era bebido no Norte, onde em quase todas as povoações havia uma destilaria, enquanto no Sul era o vinho de arroz o mais popular.
Usa-se vinho para as cerimónias de sacrifício, para beber em convívio, assim como para cozinhar e na medicina.
FESTIVIDADE DO ANO NOVO
Yuan Dan (元旦, Un-Tán) é o actual nome dado pelos chineses ao primeiro dia do ano solar, mas até à dinastia Qing era ele empregue para designar o primeiro dia do calendário lunar. Na dinastia Han, para celebrar a Festa do Ano Novo Chinês as pessoas bebiam um vinho feito com grãos de pimenta, pois o tempo era frio e este servia assim para aquecer o corpo. Na primeira hora do ano, entre as 23 h e a 1 da manhã, quando os panchões rebentavam, a família reunida brindava com este vinho para desejar um bom ano e muita saúde, sendo oferecido primeiro aos mais novos por ficarem com mais um ano de idade, devido à entrada do novo ano. Os mais idosos eram os últimos a beber, pois significava terem menos um ano de vida.
Na dinastia Tang começou-se a beber vinho feito de uma fórmula dada por os especialistas de medicina tradicional dias antes de terminar o ano, sendo a receita vendida às pessoas com os ingredientes colocados dentro de um saco de tecido, que em casa era mergulhado no recipiente com vinho. No primeiro dia do ano daí se retirava este vinho chamado TuSuJiu (屠苏酒), sendo bebido para dar às pessoas saúde e protegê-las das doenças.
Já na dinastia Song (960-1279) este tipo de vinho feito por receita da tradicional medicina caiu em desuso e no último dia do ano, o costume era fazer visitas de cortesia aos vizinhos, para não deixar assuntos pendentes, provando-se o vinho preparado por cada família e retirando-se cada um para suas casas, continuavam noite dentro a beber e comer, sem dormir. Acção denominada Shou Sui (守岁), significava proteger a idade e servia para desejar longa vida aos mais velhos da família.
Na dinastia Yuan (1271-1368) voltou-se a usar a prática da dinastia Han e Tang, bebendo-se o vinho feito com grãos de pimenta e a partir da receita medicinal. No período Ming, Qing e até hoje, seguiu-se o Shou Sui, mas apenas com a família reunida dentro de casa, acção denominada então Tuan NianJiu (团年酒), sendo escolhido o melhor vinho para acompanhar o repasto dessa longa noite sem dormir.
FESTA DAS LANTERNAS
A encerrar as cerimónias do Ano Novo Chinês, a Festa das Lanternas (元宵节, Deng jie em mandarim, Tâng-Tchit em cantonense), também chamada Festividade da Primeira Lua Cheia. Desde a dinastia Han, no dia quinze do primeiro mês lunar, como à noite as lojas não fechavam, as pessoas saiam de casa e iam passear para as decoradas ruas principais do comércio, levando diferentes tipos de lanternas vermelhas, símbolo das almas dos antepassados, que estando de visita eram depois reconduzidas de novo para o outro mundo. Em convívio se passava toda a noite a falar, beber e comer e a assistir na rua a peças de ópera e teatro.
O imperador Han Wu Di (140-87 a.n.E.) neste dia prestava homenagem à Divindade da Primeira Causa, mas o religioso significado da festa, ligada ao culto dos Antepassados e ao fogo, perdeu-se. No reinado de Ming Di (57-75), imperador Han de Leste, apareceram as lanternas e por sua ordem, na primeira Lua Cheia do Ano as famílias colocavam-nas acesas nas portas das casas, conjuntamente com ramos de abeto, a atrair Prosperidade e Longevidade. No reinado do Imperador Yang (604-617) da dinastia Sui a Festa das Lanternas foi oficializada para ser celebrada na capital, em Da Xing (Xian) e popularizada na dinastia Tang, realizava-se durante três dias. O Imperador Rui Zong (710-712) na noite de 15 da primeira Lua abria as portas do recinto do Palácio Imperial em Dong Du (Luoyang) para a população admirar a gigantesca árvore iluminada com cinquenta mil lampiões. Nessa noite o Imperador saia do palácio e convivia com os súbditos, havendo uma alegria generalizada. Eram as únicas noites do ano sem toque para recolher a casa e por isso as ruas enchiam-se de pessoas até à alvorada. Na dinastia Song, a festividade passou a ser realizada durante cinco dias e no período Ming, do oitavo ao décimo sétimo dia do primeiro mês lunar, estendendo-se a celebração da capital ao resto do país. As ruas e praças estavam decoradas com lanternas e as pessoas com elas andavam, tornando-se costume nelas escrever advinhas, charadas e enigmas. Encerrados os quinze dias de festa, regressava-se à quotidiana abstinência de vinho.
CERIMÓNIAS COM VINHO
Han Shijie (寒食节), cerimónia conhecida por a da Comida Fria, realizava-se desde o Período Primavera-Outono (770-476 a.n.E.) na dinastia Zhou do Leste, oferecendo-se sacrifícios aos que passaram desta vida e as pessoas colocavam um ramo de salgueiro nas portas de entrada das casas. Tal história teve origem quando Chong-er, com 60 anos se tornou em 636 a.n.E. o duque Wen e ascendeu ao trono do Reino Jin, após 19 anos de exílio. Tinha sido ele e os dois irmãos, filhos do duque Xian e da primeira esposa, preteridos como sucessores na governação do reino por Xiqi, nascido da concubina Liji, que influenciara o duque para os mandar matar. Sabendo tal, o mais velho, Shensheng logo se suicidou e os outros dois fugiram. Chegado ao poder, o duque Wen esqueceu-se do leal oficial Jie Zitui, que no período de fuga, em extrema fome cortara partes de carne da coxa para o alimentar. Só reconheceu a sua ingratidão quando Jie Zitui se demitiu e com a mãe se refugiou numa montanha. Mandou-o chamar, mas ele preferiu o desterro e por sugestão de um oficial da corte foi deitado fogo à montanha para o obrigar a dela sair. Como após três dias não apareceu, foram à sua procura, encontrando-o consumido pelo incêndio, atado de costas para um salgueiro e no outro lado da árvore a mãe na mesma posição. Com remorsos, o duque Wen para assinalar a morte de Jie ordenou aos súbditos nesse dia não acenderem o fogo, ficando assim a data conhecida como o da Comida Fria. Voltando no ano seguinte ao local, o duque encontrou a árvore de novo com vida e retirando um longo ramo fez com ele uma coroa colocando-a à volta da cabeça, sendo seguido pelos presentes. Desde então o costume perpectuou-se e as pessoas passaram a colocar um ramo de salgueiro à entrada da porta de casa e como não se abria o fogão, a comida era fria. Daí nesse dia as refeições serem acompanhadas por vinho doce, feito de fruta ou de glutinoso arroz, para aquecer e confortar o estômago.
Na dinastia Han apareceu o Calendário Solar do Agricultor, que dividia o ano em vinte e quatro termos, sendo o quinto o Qingming (Cheng Meng em cantonês), que significa limpo e brilhante. Conhecida também por Festa do Puro Brilho, é uma das raras celebrações chinesas ligadas ao calendário solar e ocorre 105 ou 106 dias depois do vigésimo segundo termo, Dongzhi, o Solstício de Inverno [21 de Dezembro]. Realiza-se a Grande Cerimónia tauista para os vivos se lembrem dos falecidos, altura de os imperadores fazerem as cerimónias anuais de visita às campas dos Antepassados, culto de tempos imemoráveis apregoado na Filosofia de Confúcio.
Da dinastia Han até à Tang prestava-se mais atenção à cerimónia HanShiJie do que ao Qingming, realizado três dias depois. Oferecia-se sacrifícios às pessoas falecidas e na dinastia Tang (618-907), por decreto imperial no dia da Comida Fria começou a ser realizada a subida ao monte onde os cemitérios se encontram, fazendo-se a limpeza às campas.
Na dinastia Song, as cerimónias de HanSeJie e Qingming pouco a pouco começaram a juntar-se, fundidas definitivamente na dinastia Ming, sendo a celebração realizada à volta do dia 5 de Abril do calendário solar e como os alimentos eram já cozinhados e as refeições se comiam quentes, deixou de se beber o vinho doce e passou-se a usar o normal e corrente vinho.
Actualmente, na data do Qingming as famílias chinesas vão ao cemitério para se encontrarem mais perto dos seus antepassados e em convívio reúnem-se à volta da campa, procedendo à sua limpeza. Aí colocam a comida preferida do morto e acendem duas velas e três pivetes (incenso) e em três pequenos vasos se deita vinho, sendo este depois derramado no chão para chamar o espírito da terra, que contem a alma terrestre dos que passaram desta vida. Alguns dos presentes também bebem de um trago esse vinho e juntos com o espírito do antepassado em reunião realiza-se então uma refeição, num convívio prolongado por todo esse dia se divertem e tiram partido da vida.
Quando longe das familiares sepulturas opta-se por um passeio no campo, num parque, ou a subir a uma montanha para estar mais próximo do espírito dos seus Antepassados, ajudando o vinho à confraternização.
DANÇA DO DRAGÃO EMBRIAGADO
No oitavo dia do quarto mês lunar realiza-se a Festividade da Dança do Dragão Embriagado (舞醉龙, Mou Tchoi-Long, conhecida em mandarim por Wu Zui Long), comemorada apenas em Macau apesar de ser originária de Sek Kei (Shi qi), capital de Zhongshan. Segundo a lenda, um homem muito embriagado caiu ao Qijiang, um afluente do Rio do Oeste, onde um dragão vivia e andava a aterrorizar a população ribeirinha. Num heroísmo imprudente, atacou-o animado pelos vapores etílicos do vinho, conseguindo cortá-lo em três partes, matou-o. Outra história refere, o dragão banhava-se no rio quando Buda o cortou em três partes, ficando o tronco separado das duas extremidades. Cabeça e cauda foram resgatadas numa rede de pesca por um pescador embriagado que as trouxe para terra. Por isso, anualmente nesse dia os homens das lotas (lanes) celebram a data embriagando-se para libertos do consciente emprestarem o corpo ao Dragão. Transportando pelas ruas a cabeça e a cauda do dragão, em passos e gestos livres, muitas vezes descontrolados, recriam em dança os movimentos da parte que seguram. Pela boca em chuveiro espargindo vinho de arroz são eles próprios a alma do animal que assim fica completo. Esta acção serve para acordar o dragão e este ganhar vida.
As celebrações começam numa cerimónia conhecida como “fora da água” ou “qi shui” e após os sacrifícios ao Deus da Água, do Templo Sam Kai Vui Kun saem as cabeças e caudas do Dragão transportadas pelas ruas ao som de tambores e címbalos.
Os barcos, que durante onze meses estiveram submersos na água, ou em Macau guardados nos armazéns, nesse dia são postos a boiar. Com o corpo do Dragão fora de água, é colocado no barco a cabeça e a cauda, ficando assim preparado para as regatas dos barcos-Dragão.
A partir daqui, os treinos das equipas são efectuados com afinco e nos Lagos Nan Van começa a escutar-se o bater ritmado dos tambores a cadenciar a entrada dos remos na água até ao quinto dia da quinta Lua, quando se realizam as regatas dos barcos-Dragão. Na origem dessa festa está Qu Yuan (340-278 a.n.E.), alto ministro do Reino Chu que devido a críticas na corte se viu desacreditado e foi demitido do cargo. Após a queda do reino, em desespero lançou-se à água, mas a população, admiradora das suas qualidades, enviou barcos à sua procura e percebendo ter-se afogado, lançaram para a água arroz a alimentar os peixes, afim destes não comerem o corpo do integro estadista e poeta.
Este ano as Festividades do Dragão Embriagado celebram-se no próximo Domingo 8 de Maio, havendo distribuição do arroz da longevidade e no mesmo dia comemora-se o Dia de Buda, quando é dado um banho com água de rosas à estátua do Buda Criança, sendo às pessoas oferecida uma refeição de arroz e vegetais.
REVELADOR VINHO
A lenda da “Dama Serpente Branca”, do tempo da dinastia Song (960-1279), refere duas serpentes terem vindo do espaço e no dia da celebração do Qingming transformaram-se em belas damas. Na cidade de Hangzhou vivia Xu Xian e certo dia ao viajar de barco no Lago Oeste viu numa das margens duas jovens senhoras a querem atravessá-lo. Mandou o barqueiro ir buscá-las, dando-lhes boleia para a outra margem e como era ainda jovem solteiro, logo ficou enamorado pela beleza de Bai Suzhen. Pouco tempo depois estavam já casados e logo recebeu um aviso de Fa Hai, monge com poderes sobrenaturais, para se afastar da esposa e da dama de companhia, pois eram espíritos de serpente. Não acreditando, recebeu o repto do monge para no dia seguinte, 5 da quinta Lua à esposa oferecer Xiong huang jiu (雄黄酒), vinho com que era costume comemorar em família a Festividade dos Barcos-dragão. Assim, veria com os próprios olhos quem era ela. Mesmo sem acreditar em tal, acedeu e no dia bebeu-o com a esposa. Esta, após um copo de vinho sentiu-se indisposta e pediu ao marido para se retirar, solicitando não a acompanhar aos aposentos. Preocupado, vai ao quarto e vê-a transformada em serpente. Transtornado com a revelação, atirou-se da janela e morreu. Quando Bai Suzhen voltou a si, chorou a morte do marido, mas lembrando-se de uma erva para ressuscitar os mortos, conseguiu com ela fazer renascer Xu Xian. O vinho conhecido por Xiong huang jiu é feito a partir de uma pequena quantidade de pó de cor rubi do mineral realgar, composto de sulfureto de arsénio (As4S4) de grande toxicidade e cujo contacto pode causar irritabilidade na pele e nos olhos. Servia para desintoxicar e limpar o veneno, sendo usado nas crianças apenas no exterior e nunca para o beber.
REGATAS DOS BARCOS-DRAGÃO
Na Festividade do Duplo 5 (Duan Wujie), celebrada no dia 5 da quinta Lua, realizam-se duas importantes actividades, a de se prevenir ocorrências funestas e comemorar Qu Yuan, que nesse dia em 278 a.n.E. se suicidou atirando-se ao Rio Miluo. Após infrutíferas buscas para o encontrar, as pessoas nas águas deitaram arroz glutinoso, assim como vinho de realgar (Xiong huang jiu) para evitar ser o corpo comido por os peixes. Desde então realizam-se as regatas dos Barcos-dragão.
Neste mês é fácil ficar-se doente pois o ar é abafado, quente e húmido, estando os insectos mais activos e as suas picadas trazem febres, proliferando infecções contraídas pela boca e nariz. Para as prevenir as pessoas bebiam vinho medicinal amarelo e nele colocavam a planta seca de açoro (Acorus calamus, conhecida na China por Chang Pu) para fazer o vinho Chang Pujiu (菖蒲酒). Com esta planta medicinal da família das Acoraceae, os tártaros desinfectavam a água para beber e como o rizoma do cálamo contém um óleo com propriedades de vigorar a circulação do sangue, aumentar o apetite, facilitar a digestão, eliminar os gases do tubo digestivo e aliviar bronquites crónicas, era o vinho usado para o tratamento de 36 problemas causado pelo vento (maleitas relacionados com o fígado) e depois de o consumir ficava-se a ouvir bem e os olhos a ver claramente. Ao ser misturado com a água do banho torna-se um relaxante muscular para aliviar as dores reumáticas e acalmar a urticária.
Além de cana de calamus e artemisia para evitar infortúnios e desviar o mal, usa-se também beber vinho Xiong Huang a fim de desintoxicar e neutralizar o veneno, além de se esfregar e borrifar tudo com realgar e pegando-lhe fogo, fazer fumigação. Esse costume foi caindo em desuso e desapareceu.
FESTIVIDADE DO OUTONO
No dia 15 da oitava Lua celebra-se por toda a China a Festividade do Meio do Outono. Está ligada à Lua, quando ela parece ser maior e se oferecem e comem os bolos lunares por estes terem a forma de Lua Cheia, sendo por isso conhecida pela Festa do Bolo Lunar e em Macau, por Bolo Bate-Pau. Para os chineses é a segunda mais importante depois da do Ano Novo, quando se faziam as últimas colheitas e o trabalho no campo estava a terminar. Com dias iguais às noites e temperaturas amenas, instala-se uma sensação de prazer e bem-estar no ambiente quotidiano, reinando a alegria e felicidade. As casas, dos ricos e das mais humildes pessoas, iluminam-se com festas animadas e nos banquetes familiares come-se fruta, bolo lunar e caranguejo, usando-se vinho amarelo onde se deitava um pouco de gengibre para balançar, sendo leve para conviver e oferecer sacrifícios à Lua.
FESTIVIDADE DO DUPLO 9
Por ano há dois importantes dias reservados pelos chineses para visitar e homenagear os Antepassados: o Qingming celebrado antigamente apenas por os Imperadores, oficiais e a corte à volta do dia 5 de Abril do calendário solar e o dia 9 da nona Lua, a Festividade do Aprovisionamento do Princípio Masculino, celebração do Duplo 9, ou duplo yang, também conhecida por Chong Yang Jie (Chông Iéong Chit).
A primeira referência conhecida a Chong Yang fora feita por Qu Yuan, no poema intitulado ‘Longínqua Viagem’: “Parando em Chong Yang e entrando no Palácio dos Deuses”. Há quem afirme, o Duplo Yang, como é traduzido Chong Yang, não se referia à festividade, mas ter o significado de Céu.
Altura do povo oferecer sacrifícios aos Antepassados, levando-lhes galinhas, vinho, assim como acendendo duas velas e três paus de incenso, põem fogo aos sacos cheios de papel-moeda dourado em lingotes para a comunicação com os seus mortos seja facilitada.
Segundo o ritual chinês, não é recomendável visitar templos ou oferecer sacrifícios aos deuses, apenas é sugerido um passeio pelas montanhas, a fim de estar próximo dos Antepassados.
O costume era nesse dia as pessoas oferecerem um grande banquete a todos os parentes e amigos e os letrados juntarem-se nos locais mais ermos a contemplar a Natureza e ajudados com vinho, divagar em poesia.
A flor usada é o crisântemo, não fosse a nona Lua do ano conhecida pela Lua do Crisântemo. A flor de crisântemo (菊花, jü hua em mandarim e kók fá em cantonense) está relacionado com o Outono, pois aparece nesta estação, quando as outras flores já murcharam, e dura até às primeiras geadas. Simboliza a longevidade e representa a jovialidade e amizade em comportamento apropriado e ético.
Tao Yuanming escreveu sobre os crisântemos e no poema “Bebendo vinho”, (traduzido por Manuel Afonso Costa e editado por Livros do Meio), na sétima parte refere, “Crisântemos de Outono de cores fascinantes / eu vos colho carregadas de orvalho / e mergulho no vinho / para esquecer as mágoas / e os pensamentos do mundo…”
Com tempo bom e uma paisagem repleta destas flores, bebia-se vinho de Crisântemo. Na dinastia Song dentro do palácio eram aos milhares e com ela se fazia a comida e o vinho, usada ainda na Medicina Tradicional Chinesa. Como o corpo está seco e quente, o crisântemo é perfeito para balançar e no chá se mistura essa flor.
A Festividade do Aprovisionamento do Princípio Masculino tem como finalidade alcançar riqueza e descendência masculina e celebra-se com a esperança de se ter uma longa vida.
VARIEDADES DE BAI JIU
Baijiu (bai=branco; jiu=vinho) é o vinho chinês transparente incolor feito a partir da fermentação de arroz e grãos de cereais, como sorgo, trigo, milho e milho-miúdo (painço), e pode ter ido ao alambique a destilar para conseguir maior pureza, mais álcool e um sabor muito forte e perfumado.
Durante as três primeiras dinastias, Xia, Shang e Zhou do Oeste, o vinho era apenas levemente fermentado, com pouco teor alcoólico e preparado essencialmente para os rituais das cerimónias de sacrifício. Conhecido por vinho da primavera, o Chunjiu era feito no Inverno e bebido na Primavera.
Na dinastia Zhou de Leste a indústria do vinho desenvolveu-se rapidamente ajudada por o uso de fermento para lhe dar mais vigor, começando a ser fabricado sob licença. No início da dinastia Han do Oeste (206 a.n.E.-9) foi proibido, mas com o Imperador Wu (Wu Di, 140-87 a.n.E.) o vinho foi taxado e vendido a altos preços, levando as famílias a produzirem-no em casa. Daí o incremento da qualidade e uma grande variedade apareceu como o sake, o licor chinês, o vinho rehmannia resinoso (da raiz da dedaleira chinesa) e o vinho de mel, tornando-se moda o seu consumo. Para as cerimónias de sacrifício dos Imperadores ganhou estatuto o Jiuyunjiu.
O privilégio de consumir vinho passou da corte para o comum das pessoas, que o produziam sobretudo como bebida medicinal, utilizando ingredientes terapêuticos adicionados ao líquido criado por fermentação do grão. Nas estepes do Norte com o leite fermentado de égua fazia-se o Tongmajiu. A procura de novas substâncias para criar vinho levou a muitas experiências e ganhou-se consciência da melhor altura do ano para o começar a produzir, o tempo de armazenar, assim como se tentaram novas técnicas a fim de melhorar a qualidade.
Na Dinastia Tang (618-907) o vinho [denominado chun (Primavera) por os poetas] entrou no quotidiano das pessoas e daí se iniciou o monopólio da sua venda. Foram criadas as lojas imperiais de vinho fino e apareceram marcas como Magu de Jiangxi, Qiuluba de Shandong, Shuiping de Suzhou, Feijão-Verde de Hainan e Zama de Sichuan, este feito de arroz, trigo e milho-miúdo. Li Bai (701-762) referiu o vinho de Lanling e Du Fu (712-770) escreveu sobre o vinho Chongbi. No Sul fazia-se vinho deixando fermentar a cana-de-açúcar. Dentro dos vinhos medicinais tornaram-se famosos, o TuSuJiu (屠苏酒), bebido nas Festividades do Ano Novo e o Zhuyeqing (feito com as folhas verdes claras de bambu) usado até hoje.
Durante a dinastia Tang o teor alcoólico do vinho subiu e por isso muitos autores referem ter aparecido a destilação, levados também por a palavra Shaojiu (vinho ardente espirituoso) utilizada por Bay Juyi (772-846) nos seus poemas, mas outros historiadores contrapõem ser o grau alcoólico elevado devido ao poeta fazer vinho de líchia e usar ferver o líquido para aumentar a fermentação.
A destilação, denominada Huojiu (huo=fogo) ou Shaojiu, terá começado no reinado do Imperador Shi Zong (1161-1189) da dinastia Jin, evoluindo bastante a técnica na dinastia Yuan, tornando-se corrente criar poderosos vinhos com mais de 40º e os governantes monopolizaram a sua venda.
O vinho não destilado era chamado Shuijiu (vinho água).
FAMOSOS LICORES
Na China, os baijiu mais conhecidos são o Moutai e o Wuliang ye.
O licor Moutai descende do famoso vinho Guojiang (ou Jujiang) produzido no antigo Reino de Yelang, existente entre o Período dos Reinos Combatentes e a Dinastia Han e situava-se onde hoje são a parte Oeste e Norte de Guizhou, Nordeste de Yunnan, Sudeste de Sichuan e Norte de Guangxi. Encontrando-se esse reino fora da jurisdição do Imperador Han Wu Di, um seu enviado, Tang Meng fez um desvio na rota para o provar em Renhuai, tornando-se esse vinho o favorito do Imperador Wu.
Moutai é o nome de uma cidade no distrito de Renhuai, junto ao Rio Chishui, na província de Guizhou, onde desde 1704 é produzido o vinho com esse nome. Preparado com trigo seleccionado, o melhor sorgo e excelente água, o processo para o fazer passa por ser duas vezes alimentado de sorgo, oito vezes amontoadamente aquecido, sete vezes fermentado e trabalhado a altas temperaturas, tal como na destilação, demorando todo o processo um ano. Por isso o sabor, sem arder na boca, se mantem aveludado. Depois é cuidadosamente engarrafado e armazenado durante três anos, antes de ser posto à venda.
O licor Moutai ganhou fama mundial na Exposição Universal de 1915 (Panamá-Pacific International Exposition) realizada em San Francisco, quando uma garrafa caindo ao chão se partiu e o intenso aroma perfumado captou a atenção dos visitantes.
Já o licor Wuliang ye produzido em Rongzhou, hoje Yibin, na província de Sichuan, é feito com cinco diferentes grãos (significado de wuliang): sorgo, arroz glutinoso, trigo, arroz de consumo diário e milho. Com um forte sabor e uma fragância muito específica, começou a ser feito durante a dinastia Song, sendo proveniente do vinho Chongbi existente já na dinastia Tang. É um dos cinco melhores licores de Sichuan a par com o Laojiao produzido em Luzhou (Jiangyang), a sul da planície de Sichuan. Vinho muito graduado, com um forte e intenso odor, cujo sabor após ser bebido fica pela boca longo tempo. Em 1644 o rebelde Zhang Xianzhong (1606-1647) deu-o a beber à sua tropa para a encorajar antes de avançar para Chengdu. Em 1879 produzia-se dez toneladas de vinho e antes de 1949 era Luzhou considerada a cidade do licor na China. Outros famosos vinhos de Sichuan são o Langjiu, o Jiannanchun e o Quanxing Daqu.
OUTROS LICORES
Da província de Shanxi é o Fenjiu produzido em Xinghuacun (aldeia da flor de damasco), a Nordeste da cidade de Fenyang. O local era conhecido durante a dinastia do Norte e do Sul (420-589) pelo bom vinho das cem fontes, pois feito de boas águas e alta qualidade de sorgo, tendo o licor transparente um suave sabor. Macio e um pouco adocicado na boca, a marca Baoquanyi ganhou um prémio e a aldeia de Xinghuan tornou-se a maior produtora de vinho na China desde 1985, com grande volume de exportação.
Já da província de Shaanxi, o licor Xifeng é feito em Liulin, cidade no sopé da montanha Lingshan, a Oeste do concelho de Fengxiang. Na região produzia-se vinho desde o Período da Primavera-Outono (770-476 a.n.E.) e na dinastia Tang a cidade passou a estar cheia de fábricas de vinho. Na dinastia Song, em Liulin fazia-se o vinho Fengzhou de onde proveio o licor Xifeng (Fénix do Oeste) usado nos jantares imperiais. Combinando um sabor suave e aroma forte o licor Xifeng é feito de fermento de cevada, ervilhas e sorgo como materiais de base e água dos poços de Liulin. Fermenta durante 14 dias pela técnica da sedimentação de sólidos, misturada com uma cozedura a vapor e destilado. Após armazenado três anos, é engarrafado e fica prontos para ser bebido.
Em Suizhou, província de Hubei, provámos o local baijiu “Yandi Shennong”, cujos habitantes lhe chamam o Motai de Hubei. Com quarenta graus de teor alcoólico acompanhou perfeitamente os pratos de carne.
HUANG JIU – VINHO AMARELO
Na China há três tipos de vinho: o huang jiu, licor amarelo, originário do país é o mais antigo, sendo produzido através da fermentação do arroz, adicionando por vezes outros cereais, sobretudo milho-miúdo; o bai jiu, ou vinho transparente feito por fermentação de cereais como sorgo, trigo, milho, milho-miúdo e arroz e pode ser depois destilado; e o putao jiu, proveniente da fermentação do sumo de uva, apareceu na China no reinado do Imperador Han Wu Di (140-87 a.n.E.). Já a cerveja denomina-se pi jiu, é um produto do século XX.
O forte licor destilado transparente é bebido no Norte, onde em quase todas as povoações havia uma destilaria, enquanto no Centro e Sul da China o vinho amarelo de arroz é o mais popular.
O arroz é cultivado no Sudeste Asiático pelo menos desde 8200 a.n.E. e o vinho feito pela sua fermentação tem mais de 4 mil anos de História, sendo por vezes conjugado com milho-miúdo, milho e trigo. Pertence a um dos três principais grupos de vinho amarelo baseados no material com que é confecionado: o vinho amarelo de arroz de Shaoxing, da província de Zhejiang, o Jimo Laojiu da província de Shandong feito com painço (diferente do milho-miúdo) e o HongQujiu, vinho de arroz fermentado vermelho produzido em Fujian, Guangdong e Taiwan. Chamados também Laojiu (vinho antigo) eram usados com propósitos medicinais desde a dinastia Zhou de Leste.
O Huang jiu feito a partir de arroz glutinoso, normal arroz e milho-miúdo, é ensopado na água durante dois a três dias [antigamente usava-se 16 a 20 dias para a água absorver os componentes do arroz decomposto e aumentar a acidez] sendo o arroz levado a cozer a vapor e depois arrefecido. Adicionando fermento (pão de trigo Qu) no arroz frio coloca-se uma nova quantidade de água e a 30° durante 5 a 7 dias realiza-se a primeira fermentação. Aberta a tampa para baixar a temperatura, faz-se a 15° uma segunda fermentação entre 30 a 60 dias.
A fermentação fica completa por metabolismo das enzimas que produzem as características do sabor, aroma e na passagem do açúcar a álcool, sendo afectada pelo clima, temperatura e a estação do ano em que se realiza.
O líquido fermentado vai à máquina de prensar, de onde escorre já o vinho amarelado e filtrado, repousa para perder o turvo e clarificar, sendo esterilizado e depois engarrafado. Rico em aminoácidos, o seu teor alcoólico anda à volta dos 15% e é um excelente tonificador do estômago, relaxante muscular e vigorante para a circulação sanguínea.
Os três mais famosos vinhos amarelos de arroz são o de Shaoxing, na província de Zhejiang, o vinho Chengang de Longyan, a Sudoeste de Fujian e o vinho Jintan Fenggang de Changzhou, em Jiangsu.
O vinho Chengang (沉缸酒), como indica o nome [chen (沉) sedimentar e gang (缸) pote] refere ser o arroz glutinoso mergulhado em água e por três vezes empurrado para o fundo do pote, depois de subir e ficar à tona a flutuar. Começou a ser feito em 1796 e apresenta-se com uma cor avermelhada, usando mais de trinta produtos de medicina tradicional. Já a História do vinho Jintan Fenggang (金坛封缸酒) refere, no final da dinastia Yuan andava Zhu Yuanzhang (1328-1398) a lutar contra os mongóis e ao passar por Changzhou provou o local vinho de arroz glutinoso. Gostando, pediu para enterrarem o pote de barro com o que sobrou do líquido, afim de na volta o beber. Já como Imperador, lembrando-se do vinho, aí regressou e mandando desenterrar, ao provar achou-o muito melhor. Ordenou servir ele para tributo, passando assim a ser denominado Zhujiu.
VINHO DE SHAOXING
A Norte da província de Zhejiang encontra-se Shaoxing, local do mais famoso vinho amarelo de arroz da China. Berço da dinastia Xia, onde Da Yu foi sepultado na base da montanha de Kuaiji, como cidade foi construída no Período Primavera-Outono (770-476 a.n.E.) e o actual nome Shaoxing só apareceu na dinastia Song do Sul (1127-1279), pois até então chamara-se Kuaiji, Shanyin e Yuezhou. Cidade sempre disputada entre os reinos Wu e Yue, quando o Rei Gou Jian (497-465 a.n.E.) voltou a restaurar o reino de Yue (473-306 a.n.E.), após a retomar aos Wu passou-a em 473 a.n.E. a capital com o nome de Kuaiji. Este rei foi quem pela primeira vez produziu o considerado melhor vinho amarelo de arroz da China, o Shaoxing Laojiu (Vinho de Arroz de Shaoxing), conhecido na Dinastia do Sul (280-589) por Vinho Shanyin, famoso por ser doce. Nesse período, na dinastia Jin (265-420) aqui viveu o Mestre Supremo dos Calígrafos, Wang Xi Zhi (303-361), nascido em Linyi na província de Shandong, mas passou a maior parte dos seus 59 anos de vida em Zhejiang, onde foi Governador da Prefeitura de Wenzhou e depois veio residir para Shaoxing. Devido à excelência do seu trabalho em todo o tipo de escritas e em particular na semi-cursiva e escrita corrida, a graciosidade do traço era admirada por todos, sendo o mais famoso trabalho “Prefácio aos Poemas Compostos no Pavilhão das Orquídeas”, onde caligrafou trezentos e vinte e quatro caracteres, após realizar um encontro no ano de 353 em Shaoxing. Aí juntara quarenta e um grandes poetas, no dia 3 do terceiro mês lunar, Duplo 3, para reverenciar o Aniversário da Deusa Mãe do Oeste. Após as cerimónias foram descansar nas margens de um canal no sopé da montanha Kuaiji e criaram um jogo com um recipiente de laca cheio de vinho a flutuar nas águas. Onde este parasse ou rodasse, quem mais próximo estivesse, ou fazia um poema, ou bebia três taças. Daí a colecção de 37 poemas escritos no livro Lantingji Xu, para os quais Wang Xi Zhi caligrafou o prefácio.
O vinho de Shaoxing não vai a destilar e é feito de arroz refinado branco glutinoso, levedura do trigo e água de boa qualidade do Lago Jianhu. A sua preparação conta com quatro fases, três vezes de fluido e quatro vezes de água. Feito a temperatura baixa, o processo para a sua produção começa com o ensopar o arroz, cozê-lo a vapor, preservá-lo em túneis e deixar que haja uma prolongada e perfeita fermentação (uma das suas melhores características). Revolvido, é depois espremido e decantado, levando o vinho a ferver para se extrair por decocção o sabor e aroma. Com uma cor amarela, é transparente sem sedimentos e um baixo teor alcoólico, entre os 12 e 17%. Feito com uma excelente qualidade, a sua técnica passou de geração em geração e quanto maior for o tempo de fermentação, um, dois, três anos, melhor é o vinho, mais saboroso, mais intenso e forte. Além de muito nutritivo e usado na medicina tradicional, é também utilizado para cozinhar.
Há uma grande variedade de técnicas usadas para fazer o Vinho de Shaoxing e as mais famosas são: yuanhong, shanniang, xiangxue e jiafan. Com maior produção, o vinho jiafan leva um reforço de arroz glutinoso e o trigo é adicionado durante a fermentação, atingindo entre os 18° e 19° após três anos a maturar. Este por ser vendido num famoso pote de porcelana ganhou a notoriedade como Huadiao jiu, um vinho para ser guardado longo tempo e feito para comemorar uma data especial.
葡萄酒 VINHO DE UVA
A história do vinho na China não ficaria completa sem referir o vinho de uva, putao jiu, feito por fermentação do sumo das uvas.
No início dos anos 90 do século XX, percorrendo as estradas da província de Henan tomamos consciência da existência de uvas na China ao passar por campos onde palhotas construídas de canas de bambu e cobertas por colmo estavam colocadas por cima das videiras. A explicação era faltar um mês para serem cortadas, levando-nos a pensar ser para estarem vigiadas devido ao preço que elas valiam. Nas bermas da estrada, vendedoras com o cesto cheio de uvas, de bago muito cheio e redondo e de um verde mesclado com castanho, pediam fortunas por um cacho. As castas eram as de Longyan (Olhos de Dragão), Beichuan e Ju Feng, todas de sabor muito ácido. Tal se modificou no terceiro milénio, com a generalização da produção de uva de outras castas como a Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay, a permitir fazer-se um vinho mais requintado.
Na China o vinho de uva tornou-se conhecido no século II a.n.E. quando Zhang Qian, o enviado do Imperador Wu (Wu Di, 156-87 a.n.E.) às regiões do Oeste, ao regressar do vale de Fergana referiu ter encontrado vinho feito de uva armazenado por pessoas ricas em grande quantidade, pois mantinha-se durante muitos anos em bom estado para ser bebido.
No reinado do Imperador Taizhong (626-649) da dinastia Tang a produção de uvas para a feitura de vinho sofreu um incremento, devido o cultivo de uvas e a produção de vinho dar um imenso lucro. No período mongol da dinastia Yuan (1271-1368) esse vinho era apenas usado para cerimónias religiosas. Marco Pólo referiu ter encontrado à venda por toda a China o vinho de uva produzido onde hoje é a província de Shanxi.
Já na dinastia Qing, o Imperador mongol Kangxi (1661-1722) certa vez estando com uma diarreia foi curado por um missionário jesuíta, que depois lhe prescreveu um copo de vinho diário para precaver contra a doença. Daí o Imperador proceder à plantação de vinha, percebendo ser a Norte do país onde as uvas se davam melhor.
Com a Guerra do Ópio e a abertura forçada de alguns portos chineses chegaram muitos missionários e mercadores europeus trazendo grande variedade de vinho de uva, assim como whisky e conhaque, negócio que foi florescendo até à implantação da República Popular da China em 1949. Considerado um produto de luxo ocidental foi banido do quotidiano por uma campanha governamental e só em 1978 com a abertura económica aos produtos estrangeiros chegou o vinho, não às lojas, mas aos hotéis que aceitavam hospedar estrangeiros, não sendo possível ser comprado com yuans, logo pelos chineses.
Só na década de 90 do século XX, o aparecimento de uma classe de pessoas enriquecida com a Bolsa levou o mercado chinês a começar a ser inundado com vinho, sobretudo francês, e a boa sorte proveio da publicidade do conhaque Remy Martin feita em 1993.
NOVA ETAPA
Em 1892, no reinado do Imperador Guangxu, o emigrante chinês Zhang Bi-shi começou a fazer vinho de uva na região de Yantai, na província de Shandong, nascendo daí a Companhia do Grupo Yantai Changyu, que só em 1949 conseguiu vingar com a marca Changyu.
Um padre francês iniciou em 1910 a produção de vinho com as uvas das videiras do recinto da sua igreja Heishanhu, em Fuwai, arredores de Beijing. Para o armazenar usou as caves da própria igreja e em 1946 começou a vender o vinho no mercado chinês, legalizando a cave com o nome Shangyi de Beijing. Em 1949 foi adquirida pelo Estado e dez anos mais tarde o governo de Beijing mudou o nome para Fábrica de Vinho de Beijing lançando a marca Zhonghua.
A Companhia Tonghwa da cidade Tonghua, a Sul da província de Jilin, foi fundada em 1937 e tem a cave a uma profundidade de 5 metros, sendo o maior espaço de armazenamento de vinho em toda a China, contando nos 772 túneis de madeira com 328 toneladas de vinho. Zhou Enlai chamou-o de ‘vinho de uva de comemoração do dia nacional’, pois foi bebido a 1 de Outubro de 1949 e esse vinho doce passou a ser servido nas recepções oficiais.
A primeira joint-venture sino-francesa criada para a produção de vinho foi feita em 1980 com a Remy Martin (Cointreau) e daí nasceu o vinho branco Dynasty, proveniente de Tianjin.
O Instituto Nacional de Alimentos Fermentados em 1976 criara a Norte da Grande Muralha, em Huailai, província de Hebei, uma zona reservada para a produção de vinho. Em 1983 o Instituto fundou a China Great Wall Wine Co. Ltd em Shacheng, Hebei, onde fez a fábrica de vinho para com vinhas desse lugar produzir a marca Great Wall. Numa nova dinâmica, hoje conta com a participação da família Torres de Espanha.
Em 1987, com a colaboração da companhia francesa Pernod Ricard foi criada a Dragon Seal Brand, com vinhas em Huailai, 130 km a Nordeste de Beijing. No ano seguinte apareceu no mercado o vinho Dragon Seal, que em concursos foi ganhando muitas medalhas.
As melhores províncias para a produção de vinho são as do Norte, Hebei, Xinjiang e Shandong. Ao redor de Tianjin produz-se 15% de todo o vinho de uva, na província de Shandong 10% e na de Xinjiang existe um quarto das vinhas do país, apesar da maioria das uvas servir para a produção de uvas passas (secas para comer). Em Yunnan, a produção é essencialmente de uvas de mesa, mas existe o vinho Yunnan Hong feito em Mile na casa-agrícola Dongfeng. Acrescentamos Ningxia, onde em 1997 provámos um bom vinho tinto proveniente das montanhas Helan, apesar de não se encontrar referenciado e nunca o ter encontrado fora da província.
As quatro marcas de vinho mais importantes na China são a Changyu de Shandong, a Great Wall de Hebei, a Dynasty de Tianjin e a Tonghwa de Jilin. A Huagong de Qingdao, a Leste da província de Shandong, tem um bom vinho branco. Outras marcas são Fengshou produzido em Beijing, a Baiyanghe Dry Wine, China Red, Duke Dry Wine e a Weilong. O Tibeten dry, com uma forte campanha publicitária no início do actual milénio, começou a ter projecção em todo o país. Se em 1994 provamos o vinho de Turfan, que é muito doce e deve ser apresentado como aperitivo, agora apareceu Lau Lan feito com a casta Cabernet Sauvignon. Também em Xinjiang, a produção de vinho branco e tinto de uva, com a marca do nome da província tem vindo a ganhar fama.
Em 1997, a China tinha tantos hectares de vinha e produção de vinho como Portugal e num esforço de crescimento atinge agora uma nova fase, tanto na qualidade dos vinhos, como com vinhas velhas a conseguir aliciar gostos mais exigentes. Paulatinamente o putao jiu começa a conquistar o paladar e olfacto da população chinesa em geral, dando ao sector um largo potencial de crescimento.
Nos finais de 2008 o imposto sobre vinho de uva importado baixou para mais de metade, levando o mercado chinês a ser inundado de vinho de todas as origens e proveniências, não se importando então os chineses de pagar somas astronómicas para beber os famosos vinhos franceses.
Agora assiste-se a investimentos chineses nas quintas em França e Portugal. •