Panoramas do Rio de Janeiro por Sunqua

SUNQUA. Panoramas do Rio de Janeiro, óleo sobre tela, c.1830, 41,5x124cm, Coleção de Paulo Fontainha Geyer, Museu Imperial de Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil.

 

Análise de três pinturas do comércio cantonês

 

Ativo em Cantão e Macau entre 1830 e 1870, Sunqua é amplamente reconhecido como um dos mais renomados e prolíficos pintores comerciais de sua época. Neste artigo, são abordadas três de suas pinturas a óleo sobre tela que retratam panoramas do Rio de Janeiro, pertencentes à coleção de Paulo Fontainha Geyer, localizada em uma filial do Museu Histórico de Petrópolis, no Rio de Janeiro (Cf. Imagens anexadas).

O historiador brasileiro José Roberto Teixeira Leite afirma que essas pinturas “revelam uma certa qualidade naïve, como uma falta de habilidade na execução. O desenho não é espontâneo”. Essa “qualidade naïve”, de acordo com Leite, podem significar que o artista copiou outras obras originais retratando a mesma vista.

Tal impressão em relação à técnica é colocada em evidência quando comparamos as pinturas de Sunqua no Rio de Janeiro com as demais telas atribuídas à sua autoria. Oito obras de Sunqua são abrigadas pela Coleção de Arte Asiática de Exportação, na Sala Robinson do Peabody Essex Museum, em Salem, em Massachusetts, nos Estados Unidos. Os três panoramas brasileiros são bastante similares em estilo aos que Sunqua teria produzido durante os estágios iniciais de sua carreira, por volta de 1830.

O catálogo da exposição brasileira “Memória da Independência 1808-1825”, organizada pelo Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1972-1973, atesta que Sunqua esteve no Brasil nas primeiras décadas do século XIX. Segundo a nota presente no catálogo, “há apenas indicações de que ele era chinês e que vendia suas pinturas no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XIX”.

No entanto, em carta datada de 16 de julho de 1990, dirigida a J. T. Leite, o especialista Frank Connor escreve que duvida que Sunqua tenha visitado a América do Sul. No entanto, os ateliês de pintores cantoneses, dos quais o de Sunqua era talvez o mais conhecido de sua época, tinham como especialidade a pintura de vistas precisas de portos visitados por navios do “Comércio da China”, incluindo Santa Helena, Cidade do Cabo e Singapura, geralmente baseados em gravuras. É possível que o artista chinês tenha visitado o Rio de Janeiro pessoalmente. A assinatura de Sunqua está associada a vários estilos diferentes, que podem corresponder a diferentes artistas trabalhando no ateliê de Sunqua.

Em síntese, as pinturas de Sunqua retratando os panoramas do Rio de Janeiro, pertencentes à coleção de Paulo Fontainha Geyer, constituem um exemplo notável da habilidade e técnica dos pintores comerciais chineses da época. Embora haja dúvidas quanto à presença do artista no Brasil, as pinturas podem ter sido criadas com base em gravuras e em estilos semelhantes aos produzidos pelos artistas cantoneses que se especializavam em vistas precisas de portos visitados pelo comércio chinês.

A discussão em torno da autoria das obras também acrescenta uma camada interessante à sua análise. De qualquer forma, as pinturas permanecem como um testemunho visual valioso do Brasil no século XIX e do comércio global em que o país estava inserido.

 

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  • 1  Para saber mais sobre o assunto, indicamos o artigo de José Roberto Teixeira Leite intitulado “Sunqua e o panorama chinês do Rio de Janeiro”, disponível em www.icm.gov.mo/rc/viewer/32001/2099.
  • 2  LEITE, José Roberto Teixeira. A China no Brasil: influências, marcas, ecos e sobrevivências chinesas na sociedade e na arte brasileiras. Campinas, SP: Ed. da UNICAMP, 1999, p. 377 “Note #3”.
  • 3  “I doubt whether Sunqua ever visited South America, but the studios of Cantonese “Export” painters, of which the studio of Sunqua was perhaps the best-known of its time, made a specialty of painting precise views of ports which were visited by vessels of the “China Trade”, including St. Helena, Capetown and Singapore; these were generally based upon engravings. It remains possible that the Chinese artist visited Rio de Janeiro in person. The signature “Sunqua” is associated with several different styles, which perhaps correspond with different artists working on Sunqua’s studio”. Ibid., p. 378.

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