Su Dongpo

Su Dongpo é considerado o maior poeta da dinastia Song e um dos maiores de toda a poesia chinesa, ao lado de Li Bai e de Du Fu. Nasceu em Meishan, em 1037, na província de Sichuan. A sua figura corresponde ao ideal do letrado/mandarim, poeta e prosador, calígrafo e pintor, homem político e criador de jardins.

Traduções e textos de
António Graça de Abreu

 

Mãos na lama, olhos nas estrelas

Em 1075, após três anos como assistente do governador de Hangzhou, uma das mais esplendorosas cidades da China, Su Dongpo pediu para ser transferido para Mizhou, perto da actual Qingdao, na província de Shandong. A razão era simples, passaria a viver não muito longe do irmão Su Zhe, colocado na cidade de Jinan.

Viajando de barco por rios e canais, em carruagem, a cavalo, a pé, em longas jornadas que se prolongavam por meses, conhecia cada vez melhor a China e as condições deploráveis da vida de muitas das populações do império. Os territórios eram vastos e densamente povoados e, como sempre acontece nas províncias chinesas, as cíclicas inundações e secas, o mau governo, os impostos brutais que recaíam sobre os camponeses provocavam a desolação, a miséria, as epidemias, a fome.

No seu labor de mandarim local foi constante a luta de Su Dongpo para tentar diminuir o sofrimento do povo. Pouco poderia fazer, era um simples grão de trigo boiando nas águas de um rio, ora puras, oras lamacentas, mas nos seus poemas não se limita a falar de luas faiscantes, da serenidade da névoa, dos perfumes das flores de lótus. Temos também, em palavras amargas, a mágoa, a dor, a tristeza, os soluços da pobre esposa de um velho camponês, os ossos esbranquiçados dos mortos de fome apodrecendo na berma dos caminhos. Su Dongpo, que chegou a parar a jornada para dar sepultura a esses cadáveres, reconhecia, porém, a sua incapacidade para mudar o mundo. Num poema escrito em Mizhou, em 1075, conclui:

(…) A vida avança, é tempo de decisões,
será melhor ainda este infatigável labor,
ou o repouso e a paz?
Porque não meter as mãos dentro das mangas
e, preguiçosamente, olhar apenas
o perpassar dos dias?
Que a saúde nos acompanhe num incerto porvir,
tranquilidade nos anos que nos restam,
o prazer de uma taça de bom vinho. 

O poeta permaneceu em Mizhou somente durante dois anos. Em Abril de 1077 chegou a Xuzhou, hoje no norte da província de Jiangsu, para se tornar o governador da cidade e logo em Agosto deparou-se com uma trágica situação, as águas do rio Amarelo, não muito distantes, haviam-se espalhado pelas vastíssimas planícies a sul do seu leito e inundado aldeias e cidades. Milhares e milhares de pessoas morriam afogadas.

Su Dongpo permaneceu sempre em Xuzhou, mandou reforçar e altear as muralhas do burgo, chamou milhares de trabalhadores que conseguiram parcialmente impedir o avanço das águas sobre os núcleos urbanos. Ele próprio, encharcado na lama, foi um dos que mais lutou, no terreno, pela vida das populações e pela defesa dos bens de todos. Falou com o comandante militar da região, vieram soldados, desviaram-se as águas para norte, para um braço seco do rio Amarelo e, após quarenta e cinco dias de combate às cheias, a cidade de Xuzhou estava salva. 

Jamais no império chinês se tinha visto um mandarim, governador de cidade enterrado na lama, combatendo o avanço das águas braço a braço com o povo,  jamais se tinha visto um governador preocupado com a saúde dos muitos prisioneiros que enchiam os cárceres de Xuzhou. O poeta escolhera uns tantos médicos para cuidar dos prisioneiros doentes.

A fama de Su Dongpo crescia, estendia-se pelo império. Os seus poemas, impressos aos milhares, começavam a ser conhecidos, a poesia era, na dinastia Song, a forma mais comum de comunicação de ideias.

Contudo, as coisas a nível político não lhe corriam bem. No entender da facção que se assenhoreara do poder na corte, em Kaifeng, era necessário eliminar o poeta. Os concluios da corte grassavam, enredando o poeta. A inveja crescia, inventavam-se ou aproveitavam-se frases isoladas dos seus poemas para se tecerem complicadas acusações que podiam levar até à sua condenação à morte. Vieram de novo a lume os memorandos no passado dirigidos ao imperador, com ofensas gravíssimas ao todo poderoso monarca.

Em Março de 1079, Su Dongpo foi transferido para a cidade de Huzhou, junto ao lago Taihu, no sul da província de Jiangsu, mas não foi longa a permanência no lugar. Três meses e meio depois recebia a visita dos guardas imperiais que o vinham deter e levar para a capital, a fim de ser julgado em Kaifeng. O poeta desconhecia o teor da acusação, mas anteviu o pior, a pena de morte. Com todos em lágrimas, despediu-se da família e ficou decidido que Su Mai, o filho mais velho, o acompanharia até à capital. Na barca, no lago Taihu, chegou a pensar em suicidar-se, afogando-se nas águas, mas pensou que isso também afectaria a carreira de mandarim do seu irmão Su Zhe.

Chegado a Kaifeng em finais de Agosto, foi metido nos cárceres imperiais. Todos os dias, o filho, agora com 22 anos, vinha visitá-lo e trazer-lhe comida. O julgamento começou com acusações deliberadamente manipuladas, tendenciosamente explicitadas como “Quando um representante do poder perde o sentimento do dever e passa a seguir apenas os ditames do seu próprio interesse, nada mais há que possa detê-lo. Os crimes de Su Shi são mais do que imperdoáveis e mesmo que ele morresse mil mortes, não resgataria os insultos que dirigiu a Sua Majestade.” 

Su Dongpo foi ouvido pelo tribunal, disse ter quarenta e dois anos de idade, haver desempenhado funções de mandarim em vários lugares do império, tendo procurado sempre ser justo e equilibrado na defesa dos interesses do povo e do imperador. Reconhecia ter escrito um poema a um amigo onde referia que, a caminho da cidade de Mizhou, com os olhos cheios de lágrimas, enterrara cadáveres abandonados de homens, mulheres e crianças que haviam morrido de fome e caído, ao longo da estrada. Escrevera então que não sentira alegria nenhuma em ser mandarim. Confessou que terá exagerado algumas vezes ao redigir memorandos e poemas que poderiam ser entendidos como críticas desonestas, caluniosas e injustas. De tudo pedia desculpa. 

O julgamento terminou em Outubro e todo o processo foi apresentado ao imperador Shenzong que terá dito mais ou menos o seguinte: “Sei que Su Shi tem a consciência tranquila.” Entretanto faleceu a imperatriz-viúva e era costume decretar-se uma amnistia geral em tais circunstâncias, o que, de facto, aconteceu, mas o poeta não foi contemplado.

A 29 de Dezembro de 1079 saiu do palácio uma ordem que enviava Su Dongpo para o vilarejo de Huangzhou, na margem esquerda do rio Yangtsé, perto da actual cidade de Wuhan, na província de Hubei. Davam-lhe o cargo de intendente das águas e o posto de tenente numa pequeníssima unidade de treino militar, sem receber quaisquer honorários por parte do Estado. O poeta devia ficar confinado ao distrito, não podia abandonar o lugar, nem assinar documentos oficiais. Na véspera do Ano Novo de 1080, Su Dongpo teve autorização para sair da prisão. Transpostos os portões do cárcere, respirou encantado o ar livre que o rodeava, sentiu a brisa acariciando-lhe o rosto e compôs um poema: 

Em toda a minha vida,
só aborrecimentos por causa da escrita.
A partir de hoje,
quantas menos honrarias
maior o sossego.
Finalmente posso mijar em paz.
(…) 

 

A lua, no meio do Outono

Ao entardecer, nuvens dispersas desaparecem,
não se vêem mais montanhas,
silenciosa, a Via Láctea dá a volta, na abóbada de jade.
Se nesta noite, neste nosso existir,
não fruirmos prazer, mil alegrias,
no próximo mês, no próximo ano,
quem sabe por onde se desdobrarão as nossas vidas?


Fim da floresta, resplandece a montanha

Acaba a floresta, resplandece a montanha,
os bambus escondem um muro feito pelos homens.
O canto das cigarras na erva murcha, junto ao lago,
pássaros brancos em círculos no céu aparecem, desaparecem.
Lótus vermelhos reflectem-se na água, soltam perfumes,
uma muralha antiga rodeia um velho lar.
Lentamente, apoiado no bastão, caminho para o sol poente,
de súbito, uma chuva cai, ilumina o céu,
Sempre a incerteza no avançar do tempo,
o final do dia envolto em espasmos de frescura.

鹧鸪天·林断山明竹隐墙

林断山明竹隐墙。
乱蝉衰草小池塘。
翻空白鸟时时见,
照水红蕖细细香。
村舍外,古城旁。
杖藜徐步转斜阳。
殷勤昨夜三更雨,
又得浮生一日凉。


Névoas de Lushan, marés de Zhejiang

Névoas de Lushan, marés de Zhejiang.
Antes da viagem, nostalgias mil,
depois da viagem, o crescer dos dias.
Névoas de Lushan, marés de Zhejiang.

庐山烟雨浙江潮

庐山烟雨浙江潮,
未至千般恨不消。
到得还来别无事,
庐山烟雨浙江潮。

Su Dongpo (1037-1101) não pára de nos surpreender.
O vazio e o silêncio são temas caros à grande poesia chinesa.
Eis quarenta caracteres de poemas de Su Dongpo, recriando o tema:

 

Vazio e silêncio  (dois excertos)

Para a maravilha do poema,
o melhor é o vazio e o silêncio.
Em silêncio, floresce tudo o que se move,
o vazio alberga dez mil imagens.

O meu coração vazio, suportando coisa nenhuma,
não importam as comezinhas coisas do mundo.
Olhem a água de um velho poço,
dez mil imagens aparecem, desaparecem.

欲令诗语妙
无厌空且静
静故了群动
空故纳万境

我心空无物
斯文定何间
君看古井水
万象自往还

 

A propósito destes versos, do silêncio e da água no velho poço, escreveu He Qing, letrado chinês nosso contemporâneo:

“O vazio e o silêncio são considerados como o princípio primevo da poesia. Quanto mais vazio e silencioso um poema soa, mais valor estético ele ganha.

“(…) Pode-se imaginar esse silêncio, essa imobilidade, essa limpidez, essa frescura, essa profundidade temporal da água de um antigo poço, e imaginar que esta água silenciosa reflecte, serenamente, os vôos das aves, as viagens das nuvens, as vibrações da luz do sol, as os- cilações das relvas e dos ramos das árvores, as mil cores da natureza. Nesta imagem poética reside não só a maior sabedoria chinesa, mas também o estado ideal da estética chinesa: permanecer ancorado no silêncio mais profundo e contemplar os movimentos mais íntimos do universo…” (He Ding, Images du Silence, Pensée et Art Chinois, Paris, L’Harmattan, 1999, pag. 79/80.)


Primeira visita
à Falésia Vermelha

No Outono de 1081, a 16 do sétimo mês, fui de barco com alguns amigos até à Falésia Vermelha. Soprava uma brisa doce, serenas as águas do rio. Ofereci vinho aos meus amigos, recitámos poemas em louvor da lua, entoámos canções da minha autoria.

Depois, a lua apareceu sobre as montanhas do leste e começou a sua viagem entre as constelações. Uma leve névoa branca estendia-se sobre o rio, o brilho das águas confundia-se com o resplandecer do céu. Demos liberdade à frágil barca e vogámos para águas distantes, como se flutuássemos no vazio, cavalgando brisas, despreocupados quanto a parar, como se tivéssemos abandonado o mundo suspensos nas asas do vento e fôssemos uma espécie de génios imortais.

Bebíamos, satisfeitos, cantávamos marcando a cadência na madeira da barca. Foi esta a canção:

Os remos traseiros são de pau de canela,
os remos da frente são caules de orquídeas.
Batem na luminosidade do céu,
subindo no cintilar da corrente.
No espaço ilimitado
abre-se o sentir de um coração.
Ao longe, um homem sábio,
caminha pelos confins do mundo.

 

Um dos convidados da jornada sabia tocar flauta e acompanhou a nossa canção. A música suspirava, como um queixume, um soluço, um gemido, o som prolongava-se, ondulante, estendendo-se como fios de seda. O dragão das águas dançava na sua caverna escondida, lágrimas encharcavam a barca de uma viúva solitária.

Emocionado, apertei os panos da minha cabaia e perguntei ao meu amigo o porquê da tristeza e da melancolia. Respondeu:

“O príncipe Cao Cao já tudo explicou.
Clara a lua, raras as estrelas,
os corvos sombrios voam para sul.” 

Ora a oeste de onde nós estávamos, situa-se Xiakou, do outro lado, a leste, fica Wuchang. Misturam-se as montanhas e os cursos de água, imensos, sombrios, azuis. Aqui foi Cao Cao derrotado pelo jovem Zhou Yu. Depois de ter tomado de assalto a cidade de Jingzhou e submetido Jiangling, o príncipe Cao avançou para leste, seguindo o leito do rio. As suas barcaças de guerra estendiam-se por cem léguas, os seus pendões e bandeiras escondiam o céu. Sentado nas margens do rio, tendo guardado a sua alabarda, bebia vinho e recitava poemas. Cao Cao foi um dos grandes heróis da nossa História, mas onde está hoje?

Como falar então de mim ou de vós, lenhadores, pescadores nas ilhotas do rio, camaradas de peixes e amigos de veados… Viajamos numa barca minúscula como uma casca de árvore, em vez de termos taças de vinho, bebemos em humildes calabaças, esvoaçamos entre céu e terra como gente efémera, somos simples grãos de cereal no meio de infindáveis mares. Lamentamos a passagem de uma vida tão breve e rápida, temos inveja do grande rio Yangtsé que jamais se cansa de correr. Gostávamos de nos juntar aos imortais no seu vôo, de partir para longe, de existir para sempre, arrastados pelo brilho do luar. Sabemos que tudo isso é impossível de alcançar e deixamos cair na placidez do vento o eco lúgubre das nossas queixas. 

Eu pergunto: “Conhecem a água e a lua? Desaparecem, mas jamais se separam de nós. A lua cresce, decresce, mas não aumenta nem diminui. Se considerarmos o todo do ponto de vista do que muda, então o céu e a terra não deviam durar mais do que um piscar de olhos. Se considerarmos o todo do ponto de vista do que não muda, então a natureza e nós próprios, mudamos mas pouco.

Vale a pena invejar o que quer que seja?

Para tudo o que existe na natureza, entre céu e terra, surge sempre um mestre. É algo que não podemos escolher e decidir. Mas podemos contar com a brisa serena por cima do rio e uma lua clara entre montanhas. A primeira traz o som aos nossos ouvidos, a segunda, as cores aos nossos olhos. Estas podem ser nossas, para fruir sem gastar, o que mostra que o criador não escondeu tudo, há prazeres à solta ao alcance do coração dos homens.” 

Feliz, o meu amigo sorriu. Enxaguámos então as calabaças que enchemos outra vez de vinho. Comemos fruta e umas tantas iguarias. Os pratos e os copos espalhavam-se em desordem. Deitámo-nos nas tábuas da barca, encostados uns aos outros, sem nos apercebermos que, a leste, o dia já nascia.

 

Carta ao amigo Qin Guan

Quando cheguei a Huangzhou estava preocupado com o que iria encontrar. O meu salário havia sido cortado e a minha família era extensa. Contudo, fazendo poucas despesas, consegui não gastar mais de 150 sapecas por dia. No início do mês recebia 4.500 moedas e dividi-as em 30 sacos que pendurava nas vigas da casa. Todos os dias, de manhã, com uma cana pesco um saco de sapecas. Também penduro uns caniços de bambu onde guardo o dinheiro que sobra. É um método que me foi ensinado pelo meu amigo Xia Yunlao. Creio ter dinheiro suficiente para um ano ou mais, e depois aparecerão outras soluções. A água quando corre escava a terra, não vale a pena preocupar-me demasiado com o futuro. Entendes porque são tão poucas as inquietações na minha mente? 

Nas margens do rio Yangtsé situa-se Wuchang. Em redor, a paisagem de montanhas e água é prodigiosa. A cidadezinha é habitada por um homem chamado Wang, natural de Sichuan. De quando em quando, o vento e as águas agitadas do rio impedem-me de regressar ao lar, então o meu amigo Wang mata um frango e cozinha uma panela com milho miúdo. Posso permanecer em sua casa durante vários dias, não é coisa que o aborreça. Tenho outro amigo, o Pan, dono de uma taberna no cais de Fankou. Bastam umas tantas remadas numa barca e chego à sua quitanda. O vinho da aldeia é encorpado, abundam tangerinas e dióspiros. Os inhames têm mais de um pé de comprimento e podem ser comparados aos das terras de Sichuan. O arroz vem de outras regiões, por via fluvial, e custa apenas vinte taéis por alqueire. A carne de carneiro é tão boa como a das províncias do norte, porco, vaca e cabra são muito baratos, os peixes e caranguejos não custam quase nada. Hu Tingshi, o inspector do Departamento Vinícola, trouxe dez mil livros com ele que tem prazer em emprestar aos amigos. Em Huangzhou existem vários pequenos funcionários estatais, todos amantes da boa cozinha que gostam de oferecer banquetes. Depois desta descrição podes aperceber-te de que a minha vida por aqui é mais do que agradável. Adorava conversar contigo sobre todas estas coisas, mas já não tenho papel, a folha está a acabar.

Imagino-te a leres esta carta, um sorriso de concordância, cofiando a barba.

ano de 1080

 

Su Dongpo conheceu o degredo e o exílio, mas sabia transformar as adversidades em tempos de pequenos e inesquecíveis prazeres. No ano de 1080, após 130 dias na prisão, por supostamente ter criticado o imperador, Su Dongpo foi despromovido e enviado como  fiscal das águas e segundo comandante da guarda da insignificante vilazinha de Huangzhou, na margem norte do rio Yangtsé, a meio caminho entre os lagos Dongting e Poyang. A sua casa situava-se no lugarejo de Lingao e aqui Su Dongpo escreveu alguns dos seus mais belos poemas. Este é um excerto de uma carta então enviada ao seu amigo Qin Guan. 

 


Viajando para Chi Ting 

Na viagem para Chi Ting, Pan, Ku e Guo, três homens da região são meus companheiros. Vamos ao mosteiro da doutrina chan (zen), a leste da aldeia de Nu Wang.1

A Primavera fria,
não saio de casa há dez dias,
não me apercebi que rebentos de salgueiro
baloiçam já sobre os telhados da aldeia.
Oiço o estilhaçar do gelo,
o ruído espalhando-se pelo vale.
Manchas de erva verdejante
irrompem dos fogos de Inverno.
Talhões de terrenos baldios
pedem-me para eu ficar por aqui.
Aqueço meia botija de vinho turvo,
dia após dia avanço por estes caminhos.
A chuva fina, ameixieiras em flor
abalam-me a serenidade da alma.

ano de 1081

 

1 Nu Wang fica a trinta léguas da vilazinha de Huangzhou. Pan é comerciante de vinhos, Ku vende ervas medicinais e Guo é um monge ermita.