Chen Jiao (c.165 – c.110 a.C.), a bela e talentosa imperatriz Chen (141-130 a. C.), encontrava-se numa situação aflitiva ao ser afastada para fora da capital Chang’an, tendo perdido o favor do imperador Han Wudi (141-87 a.C.), que agora vivia encantado com a cantora e dançarina Wei Zifu (?-91 a. C.).
Na impossibilidade de gerar um herdeiro ela já fizera tudo o que imaginara possível, recorrendo mesmo a proibidas práticas de bruxaria para recuperar o seu lugar junto do imperador de onde resultara a situação de exílio em que agora se descobria. E que tragicamente podia ser descrita como a realização de uma sempre lembrada promessa que Liu Che (156-87 a. C.), que seria o imperador Han Wudi, lhe fizera ainda criança de a «colocar numa casa dourada».
E, se ao imperador era reconhecida essa atenção às palavras, ela resolveu então convocar para o seu Palácio da porta alta o preclaro poeta e músico Sima Xiangru (179-117 a. C.) para que, usando os mais sublimes versos, o monarca recordasse os seus méritos e soubesse da sua dor. Sima Xiangru compôs então a Rapsódia da porta alta (Changmen fu) que, de acordo com os cronistas, de tal modo comoveu o imperador que este se deslocou à residência da desprezada esposa e retomou o perdido afecto.
O poeta era um conhecedor da possibilidade regeneradora das palavras. Não só foi por elas, enquanto casualmente tocava e cantava a canção A fénix busca a sua parceira (Fengqiu huang), que conheceu a sua esposa a poeta Zhuo Wenjun (175-121 a. C.) como mais tarde, quando ele se afastara dela indiciando que a ia deixar, foi pelo poema Lamento dos cabelos brancos (Baitou yin) em versos como: «Uma noiva não deveria lamentar o seu casamento. Tivessem as pessoas um só coração que ele não se separaria mesmo quando os seus cabelos estivessem brancos», que ela o reconquistou. Todos estes poemas em que dores estão quase a ser outra coisa seriam cantados ao som do instrumento de sete cordas de fios de seda entrelaçados, designado qin.
Zhang Keguan (activo c.1350) é o suposto autor de uma pintura em que se pode imaginar um desses ou outros comovedores relatos na iminência de ser evocado. Na página de álbum Terraço ao luar (tinta e cor sobre seda, 26,7 x 24,8 cm, no Metmuseum) não se vê o literato a tocar o qin mas tudo à sua volta está disposto para o que está prestes a acontecer: sentado à vontade num terraço baixo, diante dele um regato de águas calmas, velas acesas, a lua cheia. Poderia cantar da forma como anos depois do drama da imperatriz Chen, o poeta Du Mu (803-852) a evocou no poema Lua: «Até aos mais remotos cantos do palácio a longa noite de Outono estende-se,/ Rompe-a um cantar claro e puro como uma verdade profunda./ A imperatriz Chen, sozinha, responde à solidão sua companheira;/ Na luz sobre a porta alta vê clara uma esperança vindo ao encontro do seu coração sofredor.»
