Zhu Houcong (1507-67), o imperador Jiajing (1521-67) da dinastia Ming, seria recordado como um monarca descuidado, ocupado em prazeres mundanos e supersticiosas práticas daoístas, negligenciando o governo do Império. E se altos funcionários corruptos, como o infame Yan Song (1480-1567), muito contribuiriam para caracterizar esse tempo, também emergiram então figuras exemplares que, opondo-se-lhe, deram testemunho de que continuavam a existir carácteres íntegros que asseguravam o perene valor da cultura dos literatos.
Um dos mais ilustres foi o poeta, escritor, dramaturgo e historiador de Taicang, em Suzhou (Jiangsu), Wang Shizhen (1526-1590). Filho do proeminente funcionário imperial Wang Shu, que foi injustamente condenado à morte por Yan Song, acusado de ter descurado a defesa da capital. Perante a condenação, Wang Shizhen e o seu irmão Wang Shimou humilharam-se, pedindo a comutação da pena do pai, prostrando-se no chão em frente à porta de Yan Song, oferecendo-se para cumprir a pena em seu lugar mas em vão.
De entre a excepcional produção literária de Wang Shizhen notar-se-á uma vontade de vingar o funesto acontecimento. A peça Jin ping mei, «Ameixa num vaso dourado», que critica e ridiculiza a família de Yan Song, se bem que esteja assinada pelo pseudónimo Lanling Xiaoxiao sheng, «O grande trocista de Lanling», foi-lhe muitas vezes atribuída.
Em 1567 com a morte do imperador Jiajing, a família de Yan Song foi finalmente repudiada, e os irmãos Wang puderam mais livremente evidenciar as suas qualidades literárias e dedicar-se ao elegante gosto da criação de jardins.Wang Shizhen também foi autor de teorias sobre a história da pintura e da caligrafia, sob novas perspectivas.
Um jovem pintor que conviveu com ele combinou, num estilo arcaico, várias dessas suas inspirações. Zhang Fu (1546-1631) acompanhou Wang Shizhen numa viagem ao longo do Grande Canal, executando um conjunto de pinturas correspondendo ao desejo de Wang de registar como documento histórico as margens e as povoações ao longo do caminho. Uma pintura que Zhang Fu fez em 1621, Paisagem de um paraíso de montanha (rolo vertical, tinta e cor sobre seda, 150,8 x 50,5 cm, no Museu de Arte Asiática de S. Francisco) pode ver-se como a ilustração de um desses lugares de exílio como o jardim Ciyuan «Para evitar os espinhos», que Wang criou em Taicang.
Quando o seu irmão mais novo Shimou morreu em1588, Wang escreveu vinte e quatro poemas de saudade. Um deles evocando os jardins que ambos criaram: «Ondas lentas no Danpu, o “jardim das águas agitadas”, lembram Wangchuan, o jardim de Wang Wei,/ No Ciyuan “ o jardim para evitar os espinhos”, há flores nas árvores que rodeiam a sua pequena nascente./ Mas tudo isso agora se dissolve como a tua alma na terra,/ O resto da vida perder-se-á, derretendo-se como cera de uma vela.»
